Não é piada, humor ou ironia, é Lula redefinindo suborno, jabá, pixuleco, comissão ou, como dizem no Nordeste, “um agrado”, legitimando receber dinheiro sujo para promover fraudes e ilegalidades que ajudem empresas e quadrilhas a roubar o Estado e o contribuinte. Os políticos, coitados, não têm culpa de nada, são bodes expiratórios de uma aliança espúria entre empresários e o Ministério Público.
É esse o cara que, como uma fênix do agreste, vai renascer das próprias cinzas para nos salvar? É o que pensa quem se oferece como esperança de um comportamento decente de políticos e governantes? Há controvérsias.
Lula diz que todos os políticos pedem dinheiro a empresários e que não conhece ninguém que venda a casa ou o carro para ser candidato, mas não diz que alguns vendem coisas ainda mais valiosas. Ou trocam por futuros serviços. Tudo para defender o povo... rsrs. Os empresários oferecem doações como um investimento que esperam recuperar um dia, ou como pagamento por serviços prestados, ou são achacados por políticos e, temendo retaliações, “contribuem”, como quem paga proteção a uma organização criminosa. Todo mundo sabe disso desde que o Brasil é Brasil. Lula também, mas sua conclusão é diferente: “A diferença é que agora eles transformaram as doações em propinas. Então ficou tudo criminoso.”
Simples assim. “Eles” criminalizaram tudo. É como se antes da Lava-Jato não fosse crime pagar por trabalhos sujos prestados usando cargos públicos. É como se ninguém soubesse a diferença entre doação e propina, como se todo mundo fosse como os zumbis que seguem políticos em manadas movidas a fanatismo e ignorância. É constrangedor até para seus partidários ouvir isso de quem pretende liderar a reconstrução do país e de suas instituições.
Não é só retórica palanqueira para a militância, é um acordo de leniência com as práticas políticas que nos levaram ao lodaçal em que chafurdamos. Propina não é só uma palavra, virou uma instituição nos governos Lula, Dilma e Temer.
Nelson Motta
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