terça-feira, 19 de abril de 2016

Quando o PT perdeu o caminho de casa?

Talvez em 1997, quando Lula chamou de “asneiras” as denúncias de que havia roubalheiras em contratos de firmas de consultoria com prefeituras petistas. Desde então, Lula e o comissariado fizeram uma opção preferencial pelo acobertamento e pela cumplicidade em todos os episódios em que a moralidade foi ofendida. Foi assim com as propinas que provocaram a morte do prefeito Celso Daniel. Assim foi no “mensalão” e assim o PT comporta-se diante da Lava-Jato.

Há um mantra em circulação: a honorabilidade pessoal de Dilma Rousseff está acima de qualquer suspeita. É verdade, mas pode-se aplicar o mesmo raciocínio ao general Emílio Médici (1969-1974). Ele foi um homem pessoalmente honrado. A ruína de sua biografia veio do campo da moral política. Médici nunca encostou a mão em ninguém, mas durante seu governo milhares de brasileiros foram torturados, e mais de uma centena foram assassinados.

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Para felicidade do Brasil, os crimes dos governantes mudaram de eixo e, durante o consulado petista, o demônio foi para o meio do redemoinho da corrupção e das suas alianças com larápios que hoje votaram pela deposição da presidente. Dilma era ministra de Minas e Energia quando um empresário narrou-lhe malfeitorias praticadas pela Petrobras. Ela respondeu: “Não posso me preocupar com pequenas ilegalidades”. Com o tempo, deixou de se preocupar com as grandes. Ela, Lula e o PT ficaram neutros contra a Operação Lava-Jato. Esse foi um dos principais fatores de erosão da credibilidade dos companheiros. (O apoio de Temer à faxina do juiz Moro é coisa a ser conferida. Por enquanto, ele continua a ser um velho aliado de Eduardo Cunha).

O resultado de ontem é uma derrota de Dilma, do PT e daquilo que se chama de esquerda. Como sair dessa? Nos anos 1970 do século passado, como Dilma, o uruguaio José (Pepe) Mujica estava na cadeia. Em 2010 Pepe elegeu-se presidente. Continuou vivendo na modesta chácara das cercanias de Montevidéo, dirigindo seu velho fusca e brincando com Manuela, sua cachorra de três patas. Basta olhar para seu exemplo.
Eli Gaspari

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