Donatelo Grieco comparou meticulosamente o que era o Brasil antes de Juscelino e o que passou a ser depois. JK, por exemplo, assumiu com uma produção de petróleo de 5 mil barris/dia. Entregou a faixa a Jânio Quadros com 100 mil. Na época, o consumo nacional era de 300 mil barris diários. E por aí vai.
O fato essencial, comparando-se a expressão de ontem com a realidade de hoje, é que a presidente Dilma Rousseff perdeu as ruas e nada, absolutamente nada, faz para recuperá-las. Não conseguiu elaborar sequer um projeto de governo, não foi ao encontro das praças e das ruas, nem procurou abraçar a população em torno de uma ideia. Com isso, cortou sua comunicação com a opinião pública.
Quando precisou dela, não teve condições de lhe passar o entusiasmo contido nas grandes multidões. Por uma razão muito simples: as multidões petistas dividiram-se entre ela e Luiz Inácio da Silva. Por uma ironia do destino, seu maior eleitor, tornou-se seu maior problema.
Sim. Porque foi a partir do instante em que ela o nomeou para chefe da Casa Civil que se desencadeou uma nova tempestade: a tempestade chamada impeachment.
O Supremo bloqueou a investidura, depois de Lula ter tomado posse no Palácio do Planalto, ao som do Hino Nacional, jamais tocado para preceder a posse de um ministro de Estado
Para a presidente Dilma, Lula foi o início e, ao mesmo tempo, o fim. Claro. Porque, como todos já sentiram, ela não retornará ao governo. A votação que terminou à noite de domingo foi seu Waterloo político. Não haverá nova batalha. Ela perdeu o confronto original e também a guerra.
Onde estava o povo? As ruas eram ocupadas majoritariamente pelos que se emocionavam pelo seu afastamento. Emoção da mesma intensidade não se registra entre aqueles que falavam pela sua permanência no Planalto. E, no fundo, é o entusiasmo que aquece corações e mentes.
Para mim, observador dos políticos ao longo de seis décadas, tornou-se eterna a imagem iluminada por JK naquela noite, no prédio que, além da TV-Rio, abrigava o Cassino Atlântico, do jornalista Paulo Bitencourt, também diretor proprietário do Correio da Manhã. A imagem é simples e direta. Clara como um copo d’água, como devem ser as interpretações.
Sem apoio do povo, mesmo de forma indireta, não há poder que resista às tempestades que desabam no caminho dos governos e governantes. Dilma Rousseff não considerou este aspecto fundamental. E também essencial. Tão essencial quanto o ar que se respira.
O povo precisa de um projeto que lhe forneça pelo menos esperança.
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