terça-feira, 19 de abril de 2016

E agora, quem governa?

Há poucos anos, num baronato petista, o burgomestre do alto da sapiência sesquipedal proclamou um novo decreto criando uma fundação que já existia ao menos no papel. Faltava apenas regularizá-la, mas como asnos têm medida imensurável, copiou-se quase letra a letra o decreto anterior e esfregou-se o papel na cara de todos como a máxima inovação em governabilidade. E assim, por alguns meses, o baronato possuiu duas fundações idênticas no papel e nenhuma funcionando, mas a última com presidanta instituída e proclamada mesmo no contracheque.

Não menos exótica é a situação criada, também sob auspícios petistas no STF, a partir de domingo, quando foi aprovado o encaminhamento do pedido de impeachment presidencial ao Senado. O Brasil acordou com dois presidentes e dois palácios, mas nenhum governo. E assim por um ou dois meses, haverá uma presidência e duas cabeças, que em verdade não funcionarão.


A eleita não tem apoio, mas a caneta e a chave para dispor à vontade do cofre, inclusive para pagar débitos políticos assumidos para a decisão de domingo. A cabeça, no palácio do Jaburu, tramará o futuro sem caneta e chave. Entre as duas a desgraceira econômica fazendo a ralé, metaforicamente chamada de eleitor, passar o pão que o diabo deles amassou.

A presidente eleita, sob processo de impeachment, continua a governar as ruínas que lhe sobraram. Ironicamente sobrevive sob a mesma situação do presidente da Câmara, que presidiu a sessão de domingo. Presidem enquanto não for batido o martelo da Justiça.

Ambos estão indiciados e continuam em seus cargos. Assim como o presidente do Senado, famoso colecionador de processos, também no STF, que vai presidir a sessão de abertura do processo contra Dilma. (Será que vão condenar a sessão por ser presidida por outro indiciado?)

Enquanto os poderes estão enrolados, vive-se esse caso de exceção de arregalar os olhos de qualquer democracia. Com dois presidentes - um pelos votos e outro pelo afastamento do titular -, o Brasil novamente dá um exemplo circense de como a política aqui é um pandemônio para salvaguardar poderosos em detrimento dos palhaços que pagam seus salários.

Inflacionado por dois presidentes, o Brasil vai se arrastando com a pesada carga da inflação e desemprego. O transporte dessa inconsequência será devidamente pago pela população, o que denominam "sacrifício de todos", metáfora para "nós gastamos a rodo e vocês pagam a conta".

E assim caminha a democracia do Brasil que é de todos, mas benefício de uns poucos que vivem à custa dos muitos que não têm a quem apelar neste jogo viciado.

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