sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Irrisórios somos nós

Chego a essa conclusão ao acabar de ler os jornais da semana.

No meio de todas as noticias sobre reformas no triplex do Guarujá e no sítio em Atibaia (tenho para mim que não foram as únicas, mas isso é pura intuição...), vem o Gilberto Carvalho e declara, com a cara mais limpa, que “reforma em sítio é a coisa mais natural do mundo”.

Ô seu Gilberto, reforma em qualquer imóvel que esteja necessitando de consertos é muito natural. Não precisava o senhor usar toda a sua inteligência para parir essa frase!

O que talvez não seja natural é a reforma vir como um presente. Isso talvez seja inusitado.

Digo talvez porque aqui no Brasil nada parece inusitado, temos mais coisas estranhas rondando na área do que supunha até a vã filosofia de Shakespeare.


Duvida? Então leia ou releia.

O José Dirceu, em seu depoimento ao juiz Sergio Moro, disse que “Sem falsa modéstia, receber R$ 120 mil pelas consultorias que dava era uma quantia irrisória”.

Vocês lembram quando ele disse que um telefonema do José Dirceu era um telefonema do José Dirceu? Pois disse, disse, sim, e então penso com meus botões: quanto ele cobraria por cada telefonema?

Dirceu disse que não é rico. O irrisório que recebia, pelo visto, era todo usado para manter seu padrão de vida, não dava para juntar uns míseros reais. Não sei, e ele não disse, em que gastava o dinheiro, já que sua casa em Vinhedo também foi reformada, o que é muito natural, por um amigo empreiteiro.

Ele viajava muito, para atender seus clientes, os tais que se valiam de suas consultorias. Mas nem nessas viagens gastava parte do irrisório que recebia, já que Julio Camargo, o lobista, lhe cedia os jatinhos usados nas viagens.

Li por aí que José Serra se comoveu ao ver a capa da VEJA que mostrava Dirceu no Pavilhão 6 do Complexo Médico-Penal de Pinhas, perto de Curitiba. Não posso dizer o mesmo. Não me comovi. Mas posso dizer – e digo – que José Dirceu dá um nó na inteligência de qualquer outro petista. Ele não veio com lorotas ridículas. Assumiu que recebia ajuda do amigo Julio Camargo e pronto.

Tem algum mal um amigo ajudar o outro? Não creio. Só depende de onde o amigo tirou o dinheiro que tanto bem fez ao Dirceu. O problema agora é do Camargo que vai ter que explicar de onde saíram tantos irrisórios...

Outro amigo fantástico é um que se diz ator, o tal de Zé de Abreu. Sabendo que os irrisórios não davam para o Dirceu sobreviver com conforto, e informado de uma multa que a Justiça lhe cobrava, o que fez o amigão?

Organizou uma vaquinha e juntou R$1 milhão para ajudar o Dirceu! Não era o caso de os petistas que contribuíram com essa vaquinha reclamarem o seu de volta, já que o Dirceu confirmou ao juiz Moro o quanto amealhou por mês com sua empresa de consultoria?

Que nada! Vai ver estão muito orgulhosos e se gabam: “eu contribuí com a vaquinha do Zé de Abreu para ajudar o querido Zé Dirceu”.

É mesmo um país diferente.

Outro exemplo:

O ex-ministro Delfim Netto, que tantas aprontou, é um dos signatários do AI5, foi ministro da Fazenda no governo Costa e Silva e embaixador de Ernesto Geisel na França. Prometia fazer crescer o bolo para depois dividi-lo.

O bolo até que cresceu durante sua passagem pelo ministério da Fazenda. Só não foi dividido. Se foi, eu não recebi minha fatia...

Pois esse senhor, cujo nome estará para sempre anexado ao famigerado AI5, numa entrevista ao Estadão, em 19 de setembro de 2015, disse coisas do arco da velha a respeito da presidente. Por exemplo: "A Dilma é simplesmente
uma trapalhona".

“As pessoas sabem que a presidente é uma mulher com espírito muito forte, com vontades muito duras, e ela nunca explicou por que ela deu aquela conversão na estrada de Damasco. Ela deveria ter ido à televisão, já no primeiro momento, e dizer: “Errei. Achei que o modelo que nós tínhamos ia dar certo e não deu”. Mas, não. Ela mudou sem avisar e sem explicar nada para ninguém. Como confiar?”.

Não tem como confiar.

No entanto, foi a conselho do Delfim que Dilma foi abrir o Ano Legislativo.

Por acaso ela disse que errou? Por acaso desculpou-se e prometeu que ia se preocupar mais conosco – o povo – do que com o poder que detém?

Não, o que ela fez foi pedir que o Parlamento aprove a volta da CPMF. Diria mesmo que foi implorar.

E sobre a CPMF, o que disse o ex-ministro Delfim que a aconselhou a ir ao Parlamento?

“A CPMF é um imposto cumulativo, regressivo, inflacionário, tem efeito negativo sobre o crescimento e quem paga é o pobre”.

E quem se importa com isso? Pobre é tostão. Cai no chão e ninguém se abaixa para pegar
.

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