Imagine uma vila de pescadores com mil habitantes. Todos pescam e produzem três mil quilos de peixe diariamente. Eles se alimentam dos peixes e dormem embaixo das árvores. A riqueza criada – os três mil quilos de peixe, que antes de serem pescados eram apenas “recursos naturais” – torna-se bem de consumo somente após o “trabalho” dos pescadores (que são, ao mesmo tempo, produtores e consumidores).
Certo dia, eles resolvem construir um conjunto habitacional comunitário, para o que decidem entregar metade dos peixes (1,5 mil quilos diários) a uma construtora da vila vizinha, contratada para fazer a obra. Um pescador chato, que entende de economia, diz: “mas os senhores estão dispostos a reduzir o consumo diário de peixes em 50% para entregar a metade da produção em troca das casas?” Primeira lição: como a produção total de uma nação é limitada, quanto mais investimento (casas), menos consumo (peixes), e vice-versa. Apesar disso, eles decidem ir em frente, pois é a única forma de terem o conjunto habitacional.Pois é só isso que o governo faz: retira parte da riqueza produzida pela sociedade e a transforma em outra coisa
Para administrar e fiscalizar toda a operação de recolher os peixes e entregá-los à construtora, os moradores elegem, entre os pescadores, um líder e nove auxiliares. O pescador-economista, chato como sempre, pede a palavra de novo. “Vocês se deram conta de que os dez pescadores eleitos deixarão de pescar, pois terão de trabalhar no ‘serviço público’ de gestão da obra? E que os outros 990 terão de alimentar os 10 eleitos?”
Terminada a obra, todos estão magros, pois tiveram de cortar seu consumo à metade e dar mais 30 quilos diários de peixe para alimentar o líder e os nove auxiliares. Terminada a obra, o líder faz um belo discurso para mostrar o quanto ele e sua equipe produziram. Na prática, o líder e os ajudantes não criaram riqueza alguma, não produziram nada. Eles tomaram metade dos peixes produzidos pela comunidade (impostos) e “transformaram” em casas. Também tomaram mais 30 quilos/dia de peixes para alimentar a si mesmos, os “servidores do povo”.
Pois é só isso que o governo faz: retira parte da riqueza produzida pela sociedade e a transforma em outra coisa. O governo sempre será uma fração do que a sociedade (pessoas e empresas) produz, nunca mais que isso. Uma empresa estatal, como a Petrobras, é classificada na entidade “empresas” e não na entidade “governo”. O governo somente pegou o dinheiro do povo e construiu a empresa, a qual passa a produzir e vender seu produto. Logo, ela vive de vendas e não de impostos.
Mas, quanto aos serviços públicos, o governo os oferece com os recursos obtidos da sociedade via impostos, que são uma fração da produção nacional (renda e produto são as duas faces da mesma moeda). Como os serviços públicos são executados por pessoas e as obras públicas são produzidas por empresas, o governo somente tem a função de transformar uma riqueza (peixes) em outra coisa (casas).
José Pio Martins
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