Aceita tal planilha, a pergunta que cabe é sobre eventuais impactos do movimento sobre a esfera político-governativa.
Levando-se em consideração o foco da mobilização - afastamento da presidente da República - , a resposta comporta as seguintes alternativas: a) a saída da presidente, pela via do impeachment ou da renúncia; b) a permanência de Dilma, com o apoio de uma base governista menor, porém revigorada, até o final do mandato, quando fechará o ciclo PT no poder; c) a permanência da mandatária até mais adiante, quando novas informações da Lava Jato funcionariam como petardo de poder destrutivo contra expoentes da política, entre os quais o ex-presidente Lula.
O quadro tumultuado abriria o cenário de afastamento. Para a primeira hipótese, o evento de hoje funciona como aríete a fustigar o paredão do castelo, como nas guerras antigas. Se for “monumental”, transforma-se em arma capaz de arrombar a fortaleza; se for de média envergadura, sua força se dispersará e acabará caindo na linha da banalização. Interpretando: de um lado, terá o poder de influenciar decisões do TCU e do TSE, os dois tribunais que julgarão as “pedaladas” fiscais e as contas da campanha de Dilma; de outro, não gerará conseqüências de vulto.
Para que Dilma seja impedida pelo Congresso, é preciso o fator causal. Até o momento, trabalha-se com hipóteses. Vale esclarecer: sob a égide da Justiça, nada ocorrerá fora da letra constitucional. Driblar a lei seria golpismo, coisa inviável na atual conjuntura. Agirão como indutores do estado social componentes do que chamamos de Produto Nacional Bruto da Infelicidade (PNBInf): dinheiro curto, carestia de vida, desemprego, serviços urbanos precários etc. Sob essa paisagem devastada, as manifestações ganham volume e a animosidade social se expande.
O fluxo das pedras do dominó seria este: balão da opinião pública inflado pelo Lava Jato; economia estrangulada puxando a insatisfação; indignação manifesta nas ruas; força social, como aríete, pressionando Tribunais e empurrando vãos dos Poderes; Parlamento tomando decisões sob o calor das ruas. Ou, no contraponto, pedras do dominó balançando, mas não caindo. Palácio do Planalto pichado, porém em pé.
Sob essa teia, emergem outras questões: a economia encurtará mais o dinheiro no bolso? A inflação chegará aos dois dígitos? Resposta positiva acende a hipótese de acirramento da alma social nos próximos meses. O governo terá arsenal para batalhar por sua salvação? Haverá espaço para acomodar a nova base política? Terá condições de resistir ao tiroteio? Nos últimos dias, a agenda Brasil abriu um respiro nos pulmões governamentais.
Gaudêncio Torquato
Na arena de guerra, prevê-se que o fogo da Procuradoria Geral da República queimará o comandante da Câmara. Terá condições de resistir caso o STF acolha algum pedido para seu afastamento? É certo que a luta entre as instâncias de investigação (MP, Judiciário, PF) e a tropa política será longa, ensejando conflitos até as margens eleitorais do amanhã.
Quanto à Dilma, não se espere sua renúncia. Sua índole não permite tal gesto, que poderia ser interpretado como fraqueza. O impeachment poderá ser uma reta ou uma curva, a depender do desdobramento dos cenários acima desenhados. Qual é mesmo o objeto central? Por enquanto, a visão realça a imagem de uma governante claudicando, magoada, chegando, trôpega, ao fim de linha em 2018. Lula, por sua vez, terá grandes dificuldades de voltar a comandar o país. Seu gogó palanqueiro não está tão afiado como antes.
Os círculos concêntricos produzirão marolas no centro do lago, ajudando a desconstruir sua força junto às margens. Mas a política é como Fênix; seus atores podem ressurgir das cinzas. Senador ou deputado, quem sabe, Lula seria o refundador do carcomido PT.
Na arena de guerra, prevê-se que o fogo da Procuradoria Geral da República queimará o comandante da Câmara. Terá condições de resistir caso o STF acolha algum pedido para seu afastamento? É certo que a luta entre as instâncias de investigação (MP, Judiciário, PF) e a tropa política será longa, ensejando conflitos até as margens eleitorais do amanhã.
Quanto à Dilma, não se espere sua renúncia. Sua índole não permite tal gesto, que poderia ser interpretado como fraqueza. O impeachment poderá ser uma reta ou uma curva, a depender do desdobramento dos cenários acima desenhados. Qual é mesmo o objeto central? Por enquanto, a visão realça a imagem de uma governante claudicando, magoada, chegando, trôpega, ao fim de linha em 2018. Lula, por sua vez, terá grandes dificuldades de voltar a comandar o país. Seu gogó palanqueiro não está tão afiado como antes.
Os círculos concêntricos produzirão marolas no centro do lago, ajudando a desconstruir sua força junto às margens. Mas a política é como Fênix; seus atores podem ressurgir das cinzas. Senador ou deputado, quem sabe, Lula seria o refundador do carcomido PT.
Nenhum comentário:
Postar um comentário