Lendo “O Globo”, dei com o artigo de Ricardo Noblat “Receita para salvar Dilma”. Machado pousou novamente, agora com as “Memórias Póstumas”, Capítulo VII / O Delírio, outra obra reservada apenas aos gênios mais extraordinários. Passou-me, enfim, o artífice da língua inglesa – Shakespeare – também genial trapezista da ironia, em quem a beleza criadora jorrou talento para estruturar-lhe a altíssima arte.
Desçamos aos altiplanos estéreis e tórridos da capital federal, que tem incendiado a terra brasileira. Aos hipocondríacos, recomendo a crônica política de Noblat para deleite com a sua (proposital, suponho) panaceia para salvar a presidente Dilma do precipício para o qual, desde o início, estava destinada. Algo sarcástico, decerto indignado com o roteiro que sacode uma nação inteira pelos males que infligiram ao país, os julgamentos requerem o sal da severidade e do rigor.
Uma breve reflexão sobre a lambança consumada durante o equivalente a três mandatos sob o tacão do lulopetismo mostra e sobreleva, com precisa exatidão, a autocrática irresponsabilidade do Nosso Guia, mormente na segunda metade do primeiro mandato e no erro crasso cometido pelo seu espírito de baraço e cutelo com quem ousa contrapor-lhe o peito às cordas do mandonismo; está incontroverso na imposição da sra. Dilma Rousseff.
Aí está a gênese de tudo. Nada se podia contra a imprudência fatal do Nosso Guia, e, assim, o roteiro não teria como ser outro. Leviano, irresponsável, arrogante e ignorante do peso da governabilidade em regime democrático, sobretudo uma espécie de dono incontrastável da nação, resumiu a sua tarefa de indicar um nome capaz de dirigir um imenso e complexo país à ligeireza e superficialidade de não prestar a mínima atenção na decisão monocrática a que se arrogou. Era assim que queria, e ousasse alguém divergir. Apenas trovejou para a patuleia perplexa do PT um nome desconhecido, cristão-novo não testado e descredenciado para a mais alta curul política do Estado. Nem a premiada com a escolha teve a veleidade de pleitear sua candidatura que, mesmo em sonho, não ousou ter. O PT baixou a cabeça em sinal de obediência: o Olimpo ditou, “tolitur quaestio”.
Aqui estamos hoje, como um povo patético com a dignidade desrespeitada e o patrimônio diminuído pelos escândalos dos assaltos bilionários aos bens da nação. O mandatário reconfirmado busca recuperar a fugidia legitimidade devastada. A reempossada presidente já não governa; ficou limitada a vagar, sinistramente, pelos corredores assombrados do Palácio da Alvorada, incomodada pelas visões soturnas das almas penadas dos seus antecessores.
Contudo, só lhe sobra da aventura um governo sem rumo e direção, e apenas uma saída: a renúncia. Collor renunciou, mas está longe de qualquer modelo moral que nunca teve, o dele. Não perca o seu, sra. presidente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário