domingo, 16 de agosto de 2015

Por que não irei aos protestos de domingo

Não contem comigo para este protesto de domingo. Não que não me orgulhe de ver a grandeza que é os brasileiros tomando as ruas em diversas cidades do Brasil e do exterior – no meu caso, em Berlim – para demonstrar sua insatisfação com a política brasileira – aquela sensação de desgosto tal como um ovo entalado na garganta, que já não se pode cuspir, e engolir ninguém quer.


Mas em parte essa grandeza me parece ilusória. Aceitemos, por um momento, que o que há de comum entre a multidão reunida nas ruas seja simplesmente a urgência de expressar a insatisfação com nosso país econômica e politicamente estagnado, com nossos partidos políticos oportunistas e desprovidos de qualquer identidade, com toda a energia perdida com a polarização da sociedade. Inflação, desemprego, recessão. O Congresso de um Estado laico levianamente usado como palco de ritos evangélicos. Homofobia, misoginia, violência, corrupção. E, acima de tudo, políticos que ideologicamente não enxergam um palmo à frente do próprio nariz. Motivos não faltam.

Mas protestar é um gesto político, e em política tudo tem uma finalidade. Quem me garante que eu não estarei sendo usado como massa de manobra para as finalidades pessoais de políticos oportunistas? Quem ganha com a minha presença engrossando as estatísticas? A essa altura, depois de tanto se falar em impeachment, algum partido de “oposição” se prestou a apresentar um plano de ação? E não me entendam mal, mas não é de nomes nem cargos que estou falando, mas de soluções para problemas concretos.

Em vez disso, o que vemos são políticos flertando do alto de sua irresponsabilidade com a votação de “pautas-bomba” que, em tempos de austeridade como é o atual, afetariam seriamente a governabilidade do país a longo prazo – suficientemente longo para que essas bombas um dia estourem nas mãos justamente desses levianos. Pois é, sim, leviano arriscar desestabilizar e enfraquecer ainda mais as instituições políticas brasileiras em prol de interesses pessoais. Pior ainda se para isso for preciso polarizar a opinião pública e manipular o eleitorado.

O Brasil está, sim, diante de uma forte crise de representabilidade. Num sistema presidencialista, a apatia do líder do Executivo pode enviar sinais fatais. Dilma faria bem em arregaçar as mangas e mostrar a seus eleitores e aos demais brasileiros que entendeu e domina as regras do jogo, e sabe conduzir o diálogo político. Nos resta esperar que a base “aliada” faça jus ao nome. E que a oposição tenha a honra de desempenhar um papel construtivo, a fim de honrar o potencial que o Brasil tem.

Seria fatal se esse gesto de grandeza do povo brasileiro não encontrasse correspondência no plano político.

Rodrigo Rimon Abdelmalack

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