segunda-feira, 13 de abril de 2015

Qual o rumo das manifestações?

O que é preciso evitar é que o governo e a mídia manipulem as manifestações, dizendo que as ruas querem a "reforma política popular" que eles próprios pretendem implementar.
 
O legado do PT no poder foi o de ter tirado as bases morais da democracia brasileira e provocar a maior crise política (crise sistêmica), nunca antes vista na história do País, em que não há o mínimo de confiança entre representantes e representados, em todos os níveis, em todos os aspectos. As instituições se tornaram simulacros, esvaziadas quase que inteiramente de qualquer vigor para fazer valer a defesa de princípios e valores humanos, sendo instrumentalizadas para os fins perversos de uma facção de poder, que utiliza a democracia como método revolucionário. Os que tem postos de decisão nas instituições optam pelo silêncio, por declarações ambíguas, pelo cinismo e por formas abomináveis de covardia. Os que detém algum poder nas instituições, preferem deixar serem usados e até prostituídos ou fazer de conta que vivem no melhor dos mundos possíveis, segundo a lógica de Pangloss. Muitos sabem que estão reféns desta facção de poder, mas preferem a omissão, o politicamente correto, até mesmo o recurso à mentira, ao marketing e tudo mais, na mais abjeta cumplicidade com o mal. Nunca se viu uma população inteira sem saber o que fazer, sem saber ao que se ater, sem confiar seja lá em quem for, por que não há lideranças, não há rumo, apenas a realidade gelatinosa [por isso perigosa] por extrair a perspectiva projetiva da realidade nacional. Muitos tombam no conformismo, sentindo-se impotentes diante do quadro que aí está, as poucas vozes conscientes vão sendo aquietadas, sofrendo até a exaustão, de muitas formas, enquanto se acentua, cada vez mais, a corrosão dos valores.

A Presidente Dilma Roussef age como se não houvesse crise, os convocados à CPI dizem que nada sabiam, que nada fizeram, que tudo é golpismo da oposição. Nem mesmo Sófocles se inspiraria tanto para escrever uma tragédia tão intensa. Todas estas personagens que frequentam as CPIs e vão e voltam ao Palácio do Planalto parecem mesmo viver "nas nuvens", como diria Aristófanes. Perderam o chão da realidade e vivem num teatro que não se sabe mais se é trágico ou cômico, mas que é terrível, porque ninguém sabe como irá terminar.

Há o apelo falacioso das forças revolucionárias pela "democracia direta", por uma reforma política que é apenas retórica, para radicalizar ainda mais o processo de desmonte das insitituições, de acirramento das vulnerabilidades, para que a facção de poder, em meio ao pântano que se tornou o cenário político, junto a outras forças, inclusive internacionais, possam se mover com mais avidez de poder, de controle, manipulação e perversão social. Nesse contexto, os fracos não podem mais contar com a legislação, pois que a lei se tornou a arma do forte, com seus embustes cada vez mais sofisticados, com suas hermenêuticas mais favoráveis aos que tem o poder, o mando, e as astúcias dos que assaltaram o Estado brasileiro e o aparelharam, vão conduzindo a uma consoliação ainda maior da facção de poder, ideologicamente cada vez mais à esquerda, com todo o populismo e o clientelismo, e toda espécie de trapaças que fariam Maquiavel se empalidecer diante de tanto pragmatismo e imoralidade.

Resta saber que rumo irão tomar as manifestações de rua, que desde o dia 1º de novembro vem clamando pelo "Fora Dilma, "Fora PT", "Fora Foro de São Paulo", etc. A indignação da população não pode ser convertida astutamente pelos marqueteiros do Palácio do Planalto como argumento a justificar a agenda que o próprio governo quer implantar, com o pretexto de combater a corrupção, que eles mesmos fizeram chegar a um nível tão extremo, com o mensalão, petrolão e tudo mais. O que é preciso evitar é que o governo e a mídia manipulem as manifestações, dizendo que as ruas querem a "reforma política popular" que eles próprios pretendem implementar, com o discurso já defendido pela CNBB, por exemplo, em seu documento 91, ainda em 2010, de radicalização da democracia. Não se sabe quem são títeres e quais forças exatamente estão os movendo. O fato é que o tempo atual requer vigilância, pois não será tão fácil libertar o Brasil da facção de poder que o levou a esta crise sistêmica.

Hermes Rodrigues Nery

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