quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Restaurou-se a monarquia, reina a esculhambação

A crise do PSL juntou num mesmo caldeirão política, família e assuntos de Estado. Em Tóquio, Jair Bolsonaro declarou que, em vez de virar embaixador nos Estados Unidos, o filho Eduardo deveria permanecer no Brasil para "pacificar" o partido. O presidente também afirmou que ninguém o verá "jogando lenha na fogueira" em que arde o PSL. Disse, de resto, que falta "serenidade" a um pedaço do PSL. Repetindo: Bolsonaro usou o verbo "pacificar" e o substantivo "serenidade". Ou seja: estava completamente fora de si.



Há duas semanas, agindo como um piromaníaco, Bolsonaro riscou o fósforo que acendeu a fogueira que ele agora fala em apagar. Disse a um apoiador, na frente do Alvorada, que Luciano Bivar, o presidente do PSL, está "queimado para caramba". Como quem sai aos seus não endireita, Eduardo Bolsonaro aproveitou os seus primeiros instantes como líder do PSL não para pacificar, mas para acentuar a guerra.

O filho do presidente afastou deputados rivais dos postos de vice-liderança e trocou representantes do PSL na CPI das Fake News, grande preocupação do governo. A Executiva do partido, ainda nas mãos de Bivar, abriu processos disciplinares contra 19 deputados —entre eles Eduardo Bolsonaro. E o grupo leal ao presidente da República obteve na Justiça liminar suspendendo os processos. Não será por falta de lenha que a fogueira continuará ardendo.

Em meio às labaredas, Jair Bolsonaro disse a seguinte frase sobre a indicação do filho para embaixador: "Isso o Eduardo vai ter de decidir nos próximos dias, (...) se ele quer ter seu nome submetido ao Senado para a embaixada ou não. (...) Não vou interferir na vida dele, ele é maior de idade" [O Zero Três decidiu que não irá para Washington]. Ora veja. A principal embaixada do Brasil no exterior tratada assim, como um caso de família, não um assunto de Estado. Restaurou-se a monarquia no Brasil. Reina a esculhambação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário