quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Quatro biscoitinhos e o capeta

Seja a viagem curta ou nem tanto, com passagem cara ou mais ou menos, a bordo da Latam o viajante tem direito a quatro biscoitinhos – doces, chinfrins, e embalados dois a dois. A maioria dos passageiros abre e come. Há fome no ar.

São três companhias operando nacionalmente. Se quer voar, se precisa voar, engula os biscoitinhos e não chie, como não chiou ao pagar pela mala despachada.

Em tempos de deselegâncias explícitas, é permitido dizer que os quatro biscoitinhos do faz–de-conta-que-servimos-lanche da Latam - um deboche – são o engole sapo do dia.

Há outros batráquios a serem oferecidos pelas aéreas.

Na sexta-feira, 1º de outubro, a atriz Nathalia Dill usou seu Instagram, para reclamar ter sido retirada de uma aeronave da Gol por “sobrecarga” não dela, mas do voo. O avião continha mais peso do que o permitido.

"Quero que todos saibam o que está acontecendo! Eu e mais seis passageiros fomos retirados do voo por sobrecarga! Mas como assim!? Pagamos as passagens e não pudemos voar. Agora estamos aqui esperando uma solução que não chega nunca! E ao lado do nosso grupo tem um casal que teve o voo cancelado sem aviso! Meu Deus!", escreveu.

O post de Nathalia fez eco e outras vítimas de sobrecargas da Gol chiaram. Não sabemos se – e como – os ejetados daquele dia voaram ao destino pretendido. A Gol continua no ar.


Na mesma semana, o noticiário local da Brasília contava que um dos maiores hospitais públicos da capital federal, Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), suspendeu cirurgias por tempo indeterminado porque o ar condicionado central pifou.

Nos centros cirúrgicos, relatavam profissionais entrevistados, a temperatura chega aos 38 graus e os médicos operam com um auxiliar abanando com leque, papel, mãos... para aliviar a escaldante temperatura ambiente.

Dá para imaginar a cena? O risco para os operados? O desalento dos cirurgiões?

Pois então a matéria seguiu relatando: há seis anos o ar condicionado em questão não recebia qualquer manutenção. Ou seja, passaram um governo inteiro (quatro anos!) e outro meio (dois anos!) sem que houvesse a providência de dar uma geral no resfriamento do HRAN, que atende perto de sete mil pessoas ao mês.

A voz oficial da Secretaria de Saúde/DF disse que o novo governo, empossado em janeiro, agora está providenciando uma licitação para o "causo". E não há prazo para resolução.

O portal da instituição informa: o HRAN é referência no atendimento às vítimas de queimaduras, lábio leporino, crisdown (atendimento aos portadores da síndrome de down), cirurgia bariátrica.

Os biscoitinhos tipo caridade da Latam, a sobrecarga que expulsa passageiros da Gol, os 38º de temperatura ambiente no centro cirúrgico do HRAN, em graus distintos, são retratos do Brasil operando no modo Vale Tudo, onde o presidente pode até ser chamado de vagabundo por seus pares do partido em convulsão – o PSL, segundo maior em número de deputados na Câmara Federal.

Seus 52 deputados federais eleitos rendem ao partido 8,3 milhões mensais do Fundo Partidário. Até as pedras sabem que esses $$ motivam a briga de foice entre as esquadrilhas do presidente do partido e do capetão PR alimentado por seus três capetinhas – Carlos, Eduardo e Flávio.

O PR viajou, mas a crise não. Aqui, o caldeirão do PSL ferve, espirrando tanto enxofre quanto o óleo (de galões com assinatura Shell) derramado nas praias nordestinas. No caso do enxofre, sem voluntários pra limpar.

Vai dar ruim?
Nem Lúcifer arrisca palpite. Certeza mesmo só os quatro biscoitinhos que a Latam oferece para quem escapa, pelas suas asas, do calor de Brasília.

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