Henn Kim |
Segundo, jamais discuta com fanáticos pois são todos uns radicais empedernidos, e raízes não existem para se mover. Quem espera deles o sentimento de alteridade, perde seu tempo. Sabe empatia, ou a menor disposição para se colocar no lugar do outro? Até mesmo o reconhecimento de que exista mérito fora de sua crença? Isso não é para o fanático. Pior: em questão de minutos estará acusando você de ser um fanático. Isso se ele despreza a sua pessoa. Caso simpatize, chamará você de burro, alienado, inocente, idiota, capacho… Ou seja, incapaz de pensar pela própria cabeça – por vias tortas, uma espécie de absolvição benemerente.
No acaso de o leitor aí do outro lado ser um fanático (risco crescente destes tempos), o conselho que tenho a dar troca de irmão gêmeo: sempre discuta com um fanático. No momento em que ele comunga de seus pensamentos, torna-se uma festa! Vocês ficarão concordando cada vez mais efusivamente e xingarão em passeata todos os demais habitantes do planeta. Quando for um fanático contrário, orgasmos múltiplos estarão garantidos: ambos espumarão de raiva e terão mais e mais e mais motivos para radicalizar o discurso. Fanáticos opostos se justificam, explicam-se, dão razão à luta.
Porém, se acontecer de dois fanáticos opostos começarem uma disputa na minha presença, e eu me afastar em desconsolo, muito cuidado! Ao me considerar burro, alienado, inocente, idiota e capacho, o que não chega a surpreender, estará concordando em plenitude com o fanático adversário. E isso ninguém quer, né? Já pensou o horror? O que vão dizer em casa?
Rubem Penz,
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