Assíduo na prática de gravar as ligações telefônicas e criar arquivos digitais, acabou entregando aos procuradores de Curitiba, numa negociação de delação premiada, conversas com caciques do PMDB. Esquivar-se da cadeia motivou o ex-deputado e ex-senador Machado, cearense inicialmente do PSDB, migrado ao PMDB em 2001, no qual encontrou guarida e autonomia longe de Tasso Jereissati, seu padrinho político.
Sérgio Machado foi o proprietário da fábrica de jeans Vilejack, que teve certo sucesso na década de 90 até fechar a produção em decorrência de uma ruidosa falência. De lá pra cá Machado se dedicou integralmente, e apenas, à carreira política, que lhe rendeu uma fortuna pessoal considerável.
Ameaçado por Sergio Moro de mofar na cadeia por uma década, caso não colaborasse, Machado entregou diálogos que poderia ter preservado. Indiscrições dos senadores Romero Jucá, Renan Calheiros e José Sarney. Peças que em si não configuram provas nem comprovam delitos. Entretanto, são moralmente destruidoras por quem as protagonizou.
Na linguagem informal, diferente dos discursos requintados e impolutos dos senadores, revela-se a rasteira lógica da politicagem vigente. Da vergonhosa exploração do poder.
Faz ruir a fachada e mostra no fundo uma diferença abismal, algo deprimente.
Se Machado agiu delituosamente, o que se poderia esperar dos colegas que o avalizaram? Críticas e repreensão. Mas as palavras de Sarney, a uma influência sobre o STJ para livrar Machado. Mais: “Isso não deixaremos...” em relação à possibilidade de o cearense ser preso.
Como no caso de Delcídio do Amaral, as gravações dos bastidores e das tramoias, que têm como objetivo as rasteiras na coisa pública, geram um efeito entristecedor. Mostram o lobo que estava escondido em pele de cordeiro.
Esses episódios comprovam, sem possibilidade de apelo, o sentimento subjacente ao político. O espírito que o anima, a divergência entre o discurso e a prática. A dissimulação, o disfarce ideológico, o choque entre um lado e outro da medalha.
Revela-se como alguém que quebrou uma indústria de jeans no Ceará, escalou a política e chegou a chefiar um poderoso braço de uma petroleira. Como as escolhas são ditadas para se abreviar o caminho que leva ao assalto dos bens públicos.
Certamente estamos diante de indivíduos despreparados para exercer cargos públicos da maior importância e, ainda, diante da grave falta de regras que inibam que mal-intencionados poluam e ataquem a nação e a pátria.
Evidentemente não praticam os ensinamentos do imperador Marco Aurélio, o rei filósofo, o mais importante dos governantes ocidentais, aquele que deu ao Estado moderno uma estrutura que hoje ainda é atual. Ele ditou um conselho para o indivíduo em geral e o homem público em especial: “Mantenha-se simples, bom, puro, sério, livre de afetação, amigo da Justiça, temente aos deuses, gentil, apaixonado, vigoroso em todas as suas atitudes. Lute para viver como a filosofia (amor à vida) gostaria que você vivesse. Reverencie os deuses e ajude os homens. A vida é curta”. E no fim ter vivido bem é que dá um sentido a ela.
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