A leitura dos diálogos, até o momento, não tem o efeito de provocar estragos de monta nos interlocutores. São evidentes as manifestações contrárias à Operação Lava Jato, porém estão restritas ao campo da opinião, com indicações de eventuais contatos a serem feitos com um magistrado (César Asfor) e um advogado (Ferrão), para efeito de aproximação com o fechado ministro do STF, Teori Zavascki. Sobra dessa bagagem expressiva grande contrariedade contra a Operação que investiga atores envolvidos nos escândalos que abalam o país, a par do desejo, por eles compartilhado, de zerar as ações com a formação de um pacto político-partidário. Pode ser que as próximas gravações tragam situações mais impactantes.
O fato é que as gravações caem em um instante muito tenso, eis que a luta política tende a ficar mais acirrada ante a possibilidade do afastamento definitivo da presidente Dilma. A propósito, seu advogado, o ex-advogado geral da União, José Eduardo Cardozo, promete anexar ao recurso de defesa da presidente a gravação da conversa mantida entre Machado e o senador Jucá para comprovar a tese de golpe. Uma faca de dois gumes. Pois em uma gravação com Sarney, este afirma, peremptoriamente, que a própria Dilma teria negociado com a Odebrecht o pagamento do trabalho do marqueteiro João Santana. Quer dizer, a presidente afastada também está no meio da querela.
A onda das gravações de Machado forma-se no meio de outras ondas que batem nos costados sociais. A militância do PT e movimentos controlados pelo partido e pela CUT fazem barulho nas ruas, gritando palavras de ordem, fechando avenidas, procurando semear por onde passam a semente de “golpismo”, coisa que tende a não prosperar ante a fulminante hipótese de que o processo de impeachment se ancora no rito definido pela Corte Suprema e por elevado quórum do Congresso Nacional. Na verdade, o PT está convencido de que a presidente afastada não deteria mais condições de governar caso voltasse ao posto. Se isso ocorresse, teria de promover novas eleições, mesmo sem saber como tal hipótese seria viabilizada, eis que não tem endosso constitucional. Se renunciasse, o vice assumiria.
A par da onda de contrariedade contra o novo governo, formada nos enclaves da militância petista, espraia-se pela sociedade a onda de indignação contra feitos e escândalos perpetrados na era lulodilmista, dentre os quais o mensalão e o petrolão. O balão da opinião pública recebe, a cada dia, lufadas de vento causadas pelo descalabro econômico deixado pelo PT. O país está quebrado: mais de 11 milhões de desempregados, um déficit nas contas públicas de R$ 170 bilhões, uma máquina partidarizada, grupos infiltrados em todos os setores públicos com o intuito de abrir espaços para perpetuar um projeto de poder. Impressiona a avidez com que o PT montou seu castelo de areia, sob o lema “Nós e Eles”, bons e maus, mocinhos e bandidos. Flagrados no meio da bandidagem, tenta, agora, resistir até, como eles dizem, a última gota de sangue.
Há, ainda, a onda fosforescente formada por grupos que habitam os palácios das artes e os museus da Cultura. Esse grupo aprecia a técnica da mistificação. Esmurraram a cara do novo governo quando viram que o Ministério da Cultura se transformara em Secretaria. O novo presidente, perfil de diálogo, remontou o Ministério. E o que essa turma fez? Continuou a bater. Na verdade, quer um motivo para perpetuar bolorentas palavras de ordem. Grandes nomes das artes – quase todos – financiaram seus projetos com recursos da Lei Rouanet. Mesmo assim, cobram ingressos a preços altíssimos. As contas estão escancaradas: o Sudeste levou, em 2015, 79,29% de recursos da Lei Rouanet; o Nordeste ficou apenas com 4,58%; o Norte, com 0,66%; o Centro-Oeste ganhou 2,33% e o Sul, 13,15%. Eis o retrato de apoio à Cultura. Os grandes abocanham fatias que deveriam ser destinadas aos pequenos.
Daí a inferência: os artistas boquirrotos, que muito gritam, apenas receiam não ter mais as tetas do Estado. Por último, há uma onda que se forma no meio da sociedade, juntando correntes das classes médias, o médio empresariado, os setores devastados da produção e do comércio, profissionais liberais, etc. Esses grupos se unem no repúdio à roubalheira e à corrupção desenfreada que se instalou no país. Todos aplaudem a República de Curitiba, onde o destemido juiz Sérgio Moro age com desenvoltura na condução da Operação que tenta extirpar os tumores do Estado. Essa onda não faz o barulho da militância petista, mas cria marolas que chegam até às margens da sociedade. Sua expressão indignada corre do centro da pirâmide para as lonjuras mais distantes do território. As classes médias exercem o poder de irradiar influência. Constituem a pedra atirada na lagoa, levantando marolas que correm em direção às margens.
As ondas diversas que circulam nas esferas política e social animam a locução democrática. Nunca se viu o país tão impregnado do discurso político. Os espaços da vida produtiva estão tomados por debates, discussões, ideias, a denotar que o país começa a divisar novos horizontes. Pode ser que a inovação política não seja avassaladora nas eleições de outubro, mas é razoável apostar que veremos um pleito mais asséptico e menos contaminado pelo vírus da velha política.
Que assim seja!
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