«A crescente desafeição dos meios populares pelos partidos de esquerda, observável em todas as democracias ocidentais electivas», salienta o politólogo Patrick Lehingue, «não é sem dúvida alheia à rarefacção dos eleitos que eram oriundos dos meios desfavorecidos e haviam passado pelas condições de vida ali existentes». Veja-se o caso francês. Em 1945, um quarto dos deputados franceses eram operários ou empregados antes de serem eleitos; hoje já são apenas 2,1%. Em 1983, setenta e oito autarcas de comunas com mais de 30 mil habitantes provinham ainda destas duas categorias sociais (maioritárias na população); passados trinta anos eram apenas seis.
Será o sistema representativo? Mais de metade dos americanos consideram que o Estado devia redistribuir a riqueza taxando fortemente os mais abastados. Entre estes últimos – é humano – só 17% partilham tal desejo. Contudo, o funcionamento das democracias ocidentais garante que a sua opinião será vencedora, uma vez mais sem debate real. Uma classe consciente dos seus interesses mostra-se tanto mais serena quanto diversos temas de distração realçados pelos media que ela detém continuarem a encantar o debate público. E a opor entre si as categorias populares.
Quando este sistema está bem oleado, já só falta convocar peritos muito sapientes cuja missão é recordar-nos que tanto a apatia de uns como a cólera dos outros se explicam pela «direitização» das nossas sociedades…
Serge Halimi
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