A morte, que está sendo investigada pelo Ministério Público alemão, teve lugar na segunda-feira na montadora da empresa automobilística alemã de Kassel-Baunatal, situada 100 quilômetros ao norte de Frankfurt, no centro do país. O jovem de 21 anos trabalhava para outra empresa e estava na fábrica para instalar maquinário, informa Luis Doncel desde Berlim. As primeiras investigações indicam que um companheiro que se encontrava fora das instalações acionou por engano o robô, que aprisionou o rapaz pelo tórax, arrastando-o até uma placa metálica, segundo explicou o porta-voz da empresa, Heiko Hillwig. Depois do acidente, o jovem foi levado para o hospital de Kassel, mas o serviço de emergência já não pôde fazer nada por sua vida. A procuradoria investiga o caso, mas seu porta-voz disse que ainda é muito cedo para atribuir responsabilidades. A fábrica de Baunatal tem 800 robôs.
Paul Verschure, diretor do Specs, o grupo de trabalho sobre inteligência artificial e robótica da Universidade Pompeu Fabra, de Barcelona, também tem a impressão de que se tratou “de um erro humano”, embora reconheça que ainda faltam muitos detalhes. “Esses robôs não são autônomos, são máquinas com muita força que levam a cabo tarefas muito rudimentares e repetitivas”, garante em conversa telefônica. “É um exagero chamar a isso de robô porque não tem percepção, nem sentidos. Há um erro de segurança. Não estamos diante de um Terminator nem diante de um pesadelo de robôs matando humanos”, prossegue esse perito em inteligência artificial, que dirige uma equipe de 30 pessoas.
A possibilidade de que as máquinas acabem dominando os humanos entrou na imaginação quase no mesmo instante em que surgiu a robótica, através de filmes como Metrópolis, a sequênciaExterminador do Futuro ou o recente Ex Machina. O cientista Isaac Asimov estabeleceu já em 1942 as chamadas três leis da robótica, feitas para que um robô nunca pudesse fazer mal a um ser humano: “Um robô não irá ferir um ser humano ou, por negligência, permitirá que um ser humano sofra algum dano, um robô deve obedecer às ordens dadas pelos seres humanos, exceto se essas ordens entrarem em conflito com a primeira lei, um robô deve proteger sua própria existência na medida em que essa proteção não conflite com a lei N° 1 ou a lei N°2”.
Ainda que existam centenas de universidades e empresas com programas de inteligência artificial, e tenham ocorrido avanços extraordinários em terrenos como a percepção e nos sentidos das máquinas, todos os especialistas concordam que a presença de robôs como o C3PO e o Exterminador do Futuro ainda está muito distante de acontecer e que os robôs do futuro se parecerão mais com as sofisticadas máquinas que limpam sozinhas – existem atualmente por volta de dez milhões nos lares de todo o mundo –, com minúsculos robôs capazes de operar dentro do ser humano – Harvard está trabalhando nisso – e com carros autônomos. “Robôs confiáveis, especialmente aqueles que possam trabalhar fora de recintos de segurança em uma fábrica, são muito difíceis de fabricar. Os robôs continuam sendo muito estúpidos. Eles nos fascinam, mas ainda falta muito para que façam alguma diferença no mundo”, escreveu a revista The Economist em uma recente reportagem de capa sobre a robótica.
Os robôs, entretanto, representam uma indústria crescente – a UE anunciou em 2014 um investimento de 2,8 bilhões de euros (9,6 bilhões de reais) para um setor no qual a Europa possui 32% do mercado mundial, enquanto o Google comprou oito empresas de robótica nos últimos dois anos. De acordo com dados do setor, os robôs já movimentam 19 bilhões de euros (65 bilhões de reais) por ano. E sua presença na indústria é cada vez mais importante, assim como o debate sobre a possibilidade de que milhares de empregos atuais em setores como o automotivo e a indústria sejam perdidos em um futuro bem próximo. A empresa de consultoria norte-americana Gartner – a principal no campo da tecnologia – disse em junho que “quanto mais sofisticadas as máquinas forem, se transformarão cada vez mais em alternativas viáveis aos trabalhadores humanos, o que sem dúvida terá repercussões na indústria”. “As máquinas que somos capazes de fabricar são cada vez melhores”, explica Verschure. “Essa é a revolução que iremos viver, o final de um modelo de trabalho que surgiu no século XIX. Mas daí a culpar os robôs pelo desemprego é outra história: a Espanha tem um desemprego altíssimo e poucos robôs na indústria”.
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