Ironia à parte, Dilma deu a receita: “É fechar a boca e fazer uma ginasticazinha, uma caminhadinha”. O regime deve incluir exercícios em duas bicicletas ergométricas e no aparelho, tipo elíptico, adquiridos pela Presidência da República por cerca de R$ 21 mil. Para quem não pode caminhar nas ruas, malhar em casa é uma boa opção. Pedalar, não sendo nas contas públicas, faz bem e emagrece.
Mas quem também tem emagrecido — e sem saúde — é a economia brasileira. As previsões de contração do PIB (Produto Interno Bruto) para 2015 são de 1,2%. Em 2016, os prognósticos indicam crescimento de 0,9%. Assim, entraremos em 2017 mais magros do que estávamos em 2014.
O PIB industrial terá desempenho ainda pior. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima quedas de 4,4% na indústria de transformação, 5,5% na construção civil e 2,8% nos serviços industriais de utilidade pública. A variação da Formação Bruta de Capital Fixo — indicador que mede a capacidade de produção do país — será negativa em 6,2%, prevê a CNI.
Como sempre acontece nos ajustes fiscais, os investimentos despencaram. No ano passado, nos primeiros quatro meses, as obras e as aquisições de equipamentos da administração direta somaram R$ 18,3 bilhões, contra apenas R$ 11,5 bilhões de janeiro a abril de 2015, o que significa redução de 37,3%. Até os investimentos sociais estão sendo sacrificados. Na Educação, por exemplo, apesar do lema recém-criado, a “Pátria Educadora” ficou com R$ 895 milhões a menos. Na Saúde e no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, os investimentos foram enxugados em R$ 496 milhões e R$ 189 milhões, respectivamente. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ficou menor R$ 6,6 bilhões.
A penúria no quadrimestre é geral. Em 2014, a execução orçamentária do programa Minha Casa Minha Vida foi de R$ 6,1 bilhões. Em 2015, somou apenas R$ 5 bilhões. Trata-se do subsídio que sai do orçamento da União para a redução das prestações dos adquirentes de imóveis. A tesoura também passou pelo Fies. O dinheiro acabou e os repasses diminuíram 33%. Na nova regra, os reembolsos às instituições serão em oito parcelas ao ano, em vez das 12 praticadas em 2014. Os municípios também pagam o pato. Neste ano ainda não viram qualquer centavo da ação “Serviço de apoio à gestão descentralizada do programa Bolsa Família”, destinada à melhoria do atendimento e à atualização do cadastro, entre outras finalidades.
Nas empresas estatais, as últimas informações disponíveis são do primeiro bimestre. Em 2014, o setor investiu R$ 14,7 bilhões, enquanto em 2015 aplicou 17,8% a menos. A retração foi puxada pela Petrobras, abraçada com a Lava-Jato e endividada até o pré-sal.
O arrocho é explicado pelo atraso na aprovação do Orçamento de 2015 e pelo rigor dos limites fixados para os dispêndios. Mas o que já está ruim pode piorar. Nesta semana será divulgado corte nas despesas discricionárias na faixa de R$ 70 bilhões a R$ 80 bilhões, conforme as alterações do Congresso nas medidas propostas pelo governo. Várias autoridades do primeiro escalão irão reclamar em “off”, pois ministro sem verba é como neném sem chupeta.
Os petistas criticam, mas são “Levy” desde criancinhas. No horizonte vermelho, a elevação dos juros vai desaquecer a economia e conterá a inflação. Com o alívio nos preços, as famílias voltarão a consumir e os empresários irão desengavetar projetos. Os cortes nas despesas públicas e o fim das pedaladas irão recuperar a credibilidade do governo junto ao mercado financeiro e às agências de risco. Em dois anos, a economia voltará a crescer e Lula voltará em 2018.
O problema é que, diante da lambança que Dilma produziu na economia, além da sua anorexia política, a recuperação econômica pode tardar e o panelaço aumentar. Para agravar, tudo terá que ser combinado com os russos, Renan Calheiros, Eduardo Cunha e parlamentares do próprio PT e aliados. Haja vista a votação do fim do fator previdenciário…
Enfim, o Brasil parou, atolado nas crises de natureza econômica, política, social e moral. O futuro, a curto e médio prazos, não é promissor. Dilma pode até perder mais alguns quilos, o que não lhe fará mal. Mas a economia e a indústria brasileira não podem continuar a emagrecer.
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