terça-feira, 9 de abril de 2024

Extrema-direita tenta reescrever a história das ditaduras na AL

Março é o mês para se rememorar os crimes da ditadura na Argentina (1976-1983) e no Brasil (1964-1985). Tempo de denúncias e valorização da democracia, para que a história não se repita. Nesses dois países entretanto, essas ações restringiram-se a parte da sociedade civil. No Brasil, Lula decidiu silenciar eventos críticos aos militares. Na Argentina, Javier Milei optou pelo negacionismo.

No dia 24 de março, quando se completaram 48 anos do golpe no país, o presidente argentino postou um vídeo tentando reescrever fatos históricos do regime, pedindo para que haja “verdade e justiça” e uma “memória completa”.

Batizado de “Dia da Memória pela Verdade e Justiça”, traz o depoimento da filha de um militar assassinado por guerrilheiros. Ela diz que as organizações de direitos humanos jamais acolheram sua família. E argumenta que pessoas “de ambos os lados” foram mortas. A peça afirma ainda que o número de 30 mil mortos no período é uma invenção.

Não surpreende, já que durante a campanha eleitoral Milei já havia ensaiado esse discurso, dizendo que houve uma guerra entre os militares e os grupos terroristas e que aconteceram excessos dos dois lados. A maior entusiasta dessa versão é sua vice, Victoria Villaruel, filha de militar que lutou na Guerra das Malvinas.

É difícil precisar o alcance dessa mensagem negacionista, sobretudo imaginado que boa parte do eleitorado de Milei é de jovens. Para muitos, pode ser uma história exausta, contada um milhão de vezes pelo movimento progressista argentino, que conseguiu julgar e condenar seus militares. Tantas demandas atuais e ficam remoendo essa história? Em nossos tempos, parece que a democracia perde seu valor quanto mais estabelecida – sinal de um sistema que não representa seus cidadãos.


No Brasil, o governo Lula decidiu pelo silenciamento. 60 anos do golpe e não houve uma palavra oficial contra a ditadura. As vozes destacaram-se na imprensa e em algumas manifestações pelo país. É uma ferida que jamais cicatriza.

A anistia de 1979 antecede o discurso de Milei. Houve excessos dos dois lados, os exilados podem voltar e os militares podem marchar impunemente. Nenhum fardado julgado, nenhum condenado. A Comissão da Verdade, durante o governo Dilma, foi ignorada.

Em parte, esse é o combustível que alimenta, há décadas, a visão popular de que “na ditadura era melhor”, “na ditadura as pessoas tinham mais respeito”. Anos sem eleições, parte da população vivendo com medo e uma crise econômica que abalou o país foram esquecidos. É uma nostalgia inventada que quase nos levou ao golpe em 8 de janeiro.

O jogo é esse. Neste março de 2024 os militares podem comemorar. Seus privilégios e impunidades foram protegidos. A História é um campo minado de versões em que vence a verdade mais difundida.

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