Todos eles afirmam que a economia precisa primeiro crescer para depois serem implementadas políticas atenuantes da concentração de renda. Ignoram, portanto, que o correto é exatamente o contrário. Isto é: o esmaecimento dos extremos contrastes sociais constitui poderoso promotor do desenvolvimento econômico.
Nos primórdios do ideário desenvolvimentista brasileiro, tanto durante governos democráticos quanto autoritários, era comum ouvir afirmações do gênero “antes o bolo tem que crescer para depois ser distribuído”. Mas hoje, após a frequência de insuficientes e flutuantes momentos de crescimento do PIB, tornou-se evidente que se esperarmos o alcance de elevadas e estáveis taxas de expansão econômica, a melhoria da equidade social jamais acontecerá. Na verdade, essa espera é equivocada e danosa à nação.
Enquanto políticas públicas de caráter redistributivo não forem executadas, a economia continuará na mesma pasmaceira. Isto porque tais políticas expandem o poder de compra de substancial parcela da população, num montante suficiente para impulsionar investimentos e criar empregos.
Quando o Brasil era um país essencialmente rural, a expansão da economia resultava das exportações agrícolas, tipo cana e café. Depois, os períodos mais longos de maior crescimento do PIB foram gerados pela substituição de importações de produtos industrializados, processo já esgotado. Agora, a conquista de prosperidade perene depende do intenso alargamento do consumo interno de bens e serviços.
Além do uso de instrumentos tributários, salariais e previdenciários, um processo democrático e ordenado de amenização das disparidades de renda enfatiza investimentos em setores produtores de bens e serviços que pesam proporcionalmente mais no orçamento das famílias de menor renda, ou que a elas são inacessíveis, apesar de essenciais.
Sim, existem as dificuldades fiscais, monetárias, administrativas, etc. que limitam o ímpeto da busca de maior equidade. Mas o enfrentamento dessas dificuldades não é incompatível com a amenização das disparidades de renda.
Precisamos reconhecer que o grande obstáculo à melhoria da equidade encontra-se no âmago da sociedade brasileira, explicitado pela indiferença ao tema por parte da classe política. É por isso que perdura meu pessimismo em relação ao que um próximo governo realizará.
Pouco podemos almejar de candidatos cujos assessores acreditam que a implementação de políticas atenuantes da concentração de renda devem ser precedidas pelo crescimento da economia. Ou que a ênfase deva ser atribuída a transferências assistenciais similares ao Bolsa Família.
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