quarta-feira, 24 de março de 2021

'O Brasil enfrenta hoje um morticínio estatal'

A catástrofe médica e sanitária do Covid-19 habita hoje a casa de cada brasileiro, como uma dor impossível de ser removida. E que parece não ter fim. Mais de um ano depois do início da megatragédia, que já ceifou a vida de quase 300 mil brasileiros, marca ainda longe de encerrar a pandemia, cada lar tem hoje terríveis dias para contar, com as perdas de parentes, amigos, conhecidos. E se no início tínhamos como referência a pandemia do influenza, cem anos atrás, com o combate ao vírus num mundo totalmente diferente, hoje repetimos erros que são inadmissíveis. Que se convertem em um genocídio assistido.

No início, muitos países erraram em seus diagnósticos, subestimando a pandemia e acreditando que deixar a contaminação solta, buscando a tal imunidade de rebanho natural, poderia ser uma boa saída. Mas se, com o avanço da ciência, esses países corrigiram suas rotas, aqui em terras brasileiras, por incompetência, negacionismo, vaidade e covardia eleitoral, continuamos persistindo nos mesmos erros.


O Brasil enfrenta hoje um morticínio estatal, que foi construído pouco a pouco. Começando por se esquivar do uso obrigatório de máscaras, como se isso fosse entregar super poderes, ou incentivar um coquetel médico que beirava a pajelança. Vivemos, durante um bom tempo, um processo de boicote da aquisição de vacinas, o que fez com que o Brasil, que tem vocação para programas de vacinação, se tornasse tão atrasado no processo de imunização da população, virando um pária mundial. Ao mesmo tempo, o governo apostou em forçar o cidadão brasileiro a ir para as ruas, fugindo do isolamento social apregoado em todo o mundo. Uma população empobrecida e há três meses sem o auxílio emergencial por decisão política do governo.

A prioridade do Senado nesse momento é fazer com que se tenha insumos médicos, leitos de UTI e vacinas. A semana em que me contaminei, e o Major Olímpio e outros senadores e assessores, foi a semana em que o Senado votou a legislação que permitiu a aquisição de vacinas da Pfizer e da Jansen. Mas o Senado precisa fazer mais. Precisa passar esse governo a limpo. Por isso fui um dos primeiros subscritores de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, que precisa ser instalada para identificar responsabilidades e, com urgência, corrigir erros inaceitáveis cometidos nas esferas federal, estadual e municipal.

A gente já entendeu que esse governo só se move por pressão. A pressão inicial da CPI, sabemos, gerou essa expectativa de mudança no Ministério da Saúde, que não consegue sequer informar o estoque de oxigênio no Brasil. Assim como não existe uma previsibilidade na vacinação.

A mentira tornou-se método de governo. Isso é inaceitável e tem que ser combatido. Acreditar nesse governo se tornou uma esperança vazia. A CPI é inevitável. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, chegará a hora, compreenderá que, ao não cumprir essa obrigação que o cargo lhe impõe, se coloca no limite da cumplicidade com a má gestão de um governo que usa a mentira e a desinformação como método. Não vamos deixar a mentira prosperar. Isso é criminoso. O Brasil só vai se curar dessa doença com vacina e verdade. Com mais mentiras, seguiremos enterrando muita gente.
Alessandro Vieira, Líder do Cidadania no Senado

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