sábado, 2 de maio de 2020

Bolsonaro, ricos e pobres

A última fornada de pesquisas traz dados relativamente desencontrados a respeito do governo Bolsonaro, mas os diversos institutos mostram, de forma inequívoca, o país dividido diante da principal dúvida em relação ao futuro: o impeachment do presidente da República, apoiado por 45% dos entrevistados, contra 48%, segundo o Datafolha. Com esse placar, não há hoje chances para um processo de afastamento de Jair Bolsonaro. Mas as pesquisas apontam também um quadro que parece extremamente volátil, o que talvez explique suas divergências em relação à popularidade presidencial neste momento. As águas da opinião pública estão se movimentando com rapidez, ao sabor da pandemia do coronavírus e das crises criadas dentro do Planalto. Em vinte dias, a situação poderá estar bem diferente.

Os levantamentos dos institutos Atlas e Jota/Quaest apontam queda consistente na aprovação de Bolsonaro algo como 8 p.p. a mais na desaprovação, pelo primeiro, e uma queda de 11 p.p no índice de bom e ótimo no segundo. O Datafolha, embora reflita desaprovação clara em relação à condução das políticas contra a Covid-19, traz intacto um núcleo de 33% dos entrevistados que continuam apoiando o governo.


A curiosidade, contudo, vem na composição desse bloco de um terço do eleitorado que considera Bolsonaro bom ou ótimo. Aos poucos, parece estar havendo uma substituição de apoiadores com maior nível de renda e mais alto grau de escolaridade por outros situados na faixa que recebe até dois salários mínimos e tem instrução primária. Traduzindo, no grosso modo: os ricos estariam abandonando Bolsonaro e os pobres se aproximando dele. Um movimento aparentemente provocado pelas medidas de auxílio emergencial na crise da pandemia, como o pagamento de R$ 600 a desempregados e autônomos, e que teria significado porque essa faixa da população tem maior peso do que as demais, chegando a mais de 70% do eleitorado.

Dificilmente, porém, seria essa uma tendência duradoura, a ponto de garantir a popularidade de Bolsonaro. Em primeiro lugar, porque os programas de ajuda federal aos mais pobres têm deixado muito a desejar em termos de eficiência e efetividade. As longas filas nas portas de agências da Caixa Econômica e as trapalhadas nos anúncios do Ministério da Cidadania vem deixando claro que falta a esse governo capacidade para executar políticas sociais. Em segundo, porque, lamentavelmente, a situação tende a piorar muito, tanto em relação à tragédia da pandemia, com suas mortes e hospitais em colapso, quanto nas previsões de desemprego e recessão nos próximos meses. E sabe-se que não há recursos para a continuidade desses programas ou, ao menos, não há intenção da equipe econômica de Paulo Guedes de dar recursos para isso quando seus três meses de vigência se esgotarem.

A falta de empatia do presidente da República em relação às vítimas da pandemia é algo que só Freud poderia explicar. Mas está diariamente nos meios de comunicação, e evidentemente não ajuda nada na preservação de sua imagem mesmo junto àqueles que são favoráveis à flexibilização do isolamento social. Insensibilidade jamais será bem recebida pelo grande público. Quando ficar claro o quanto está sendo nociva sua influência na questão das medidas de proteção ele baixa um decreto ampliando os serviços considerados essenciais no dia em que houve recorde de vítimas, sobretudo se houver mais mortes relacionadas a essa flexibilização, a responsabilização, para ricos e para pobres, terá nome e endereço certo: Jair Bolsonaro, Palácio da Alvorada, sem número, Brasilia, DF.

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