sábado, 5 de janeiro de 2019

Urros, zurros e latidos

Nelson Rodrigues reclamava que, em tempos passados, os idiotas tinham um certo pudor em dar suas opiniões estúpidas, conheciam seu lugar de irrelevância, mas em 1980 estavam todos saidinhos dando opinião sobre tudo e sem a menor vergonha de sua estupidez. Imagino Nelson na era digital, sendo chamado de fascista, machista, pedófilo, inimigo mortal da família e da religião — e dos perfeitos idiotas latino-americanos, um dos alvos favoritos de sua ironia cáustica.


Hoje, Nelson seria ao mesmo tempo odiado por minions e petralhas ignorantes do seu gênio e certamente lhes daria a importância de cachorros latindo. Mas seria interessante ver como o rancor, a desinformação e o fanatismo o odiariam — por motivos opostos. Por escrever a vida como ela é.

Seria Nelson um direitista reacionário na política e um libertário subversivo no comportamento? Pode isso, Arnaldo?

Quais seriam as diferenças entre um esquerdista estúpido e um direitista idiota? Por estupidez e idiotia, eles não sabem. A burrice e a ignorância têm um imenso potencial destrutivo, seja de que lado for.

Por outro lado, o psicanalista Hélio Pellegrino sempre advertia que a inteligência voltada para o mal é pior do que a burrice, pelo seu poder de destruição. Como provam os esquemas geniais de corrupção montados pelas melhores cabeças das maiores empreiteiras do país com os políticos mais inteligentes e desonestos do Brasil. Como provam alguns ministros do Supremo Tribunal Federal de um certo país latino-americano.

A absoluta liberdade de opinião com acesso a todos os meios para expressá-la publicamente resultou em guerras de palavras inúteis e perda de tempo. Mas também permitiu o seu uso inteligente e gratuito como arma de propaganda poderosa — para as melhores e piores causas.

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