domingo, 16 de setembro de 2018

O ódio como arma da campanha

Quais os limites da disputa na base do ódio na campanha eleitoral? Até onde o discurso agressivo, incitando a violência, tem lastro para angariar votos e quando ele passa a provocar rejeições em escala, prejudicando o próprio candidato? Nos últimos dias e meses, em virtude da absurda escalada de confrontos que culminou no atentado bárbaro ao presidenciável Jair Bolsonaro, esse temas ganharam evidência e começaram a se refletir claramente nas pesquisas que vieram a seguir. Os extremos do lulopetismo do quebra-quebra e do bolsonarismo do prendo e arrebento passaram a exibir altíssimos índices de rejeição. Em parte, não há como não atribuir os recentes episódios de intolerância à retórica belicosa que certos postulantes ao Planalto adotaram como fórmula para se projetar. O próprio esfaqueado Bolsonaro tratou em suas declarações de promover a beligerância. Falou em “fuzilar a petralhada”, levantou a bandeira do “invadiu, é chumbo” e, ainda se recuperando no leito hospitalar, posou gesticulando com os dedos em formato de arma. Seu vice, o general Mourão, não deixou por menos. Logo após o ataque, desafiou: “se querem usar a violência, os profissionais da violência somos nós”. Foi Lula quem tempos atrás estabeleceu esse tom do “nós contra eles” e mergulhou o País em um turbilhão de radicalismo. As cenas criminosas de um ônibus da comitiva petista sendo alvejado por bala e da facada no capitão reformado mostram como o transbordamento das emoções foi além dos limites em um País historicamente reconhecido por sua natureza cordata. Nessa corrida presidencial, que se desenvolve diferente de qualquer outra, o ambiente está eivado de animosidade. Ciro Gomes, que se esforça agora para moderar a linguagem — embora de vez em quando não resista e libere a sua conhecida verve coronelista — tentou retrucar a provocação do vice adversário e sapecou: “vem, general, seu jumento de carga”. Nas palavras como também nas atitudes são vários os presidenciáveis propagadores da mensagem do ódio em um ambiente de ebulição propício à explosão de atos de delinquentes como o que agiu na semana passada em Juiz de Fora. Certamente poucas vezes se teve notícia por essas bandas de uma disputa majoritária marcada por tanto extremismo. O que carrega em si uma série de consequências temerárias para um eventual futuro governo fruto dessa pregação. Como conciliar Congresso, Judiciário e Executivo se a tática do mandatário vir a ser a do radicalismo puro e simples? Nesse ano do aniversário de três décadas da Constituição cidadã, que trouxe desenvolvimento e liberdade social aos brasileiros, não se pode aceitar o retrocesso. O País está flertando com o imponderável, permeável a desatinos e enfrentando riscos concretos de desestabilização caso a onda não seja contida. Os eleitores precisam resistir à ameaça que está posta com um voto consciente, pela democracia, antes que seja tarde. É necessário dar um basta à exacerbação, exigir a volta do diálogo civilizatório, do respeito ao contraditório e às divergências. Vários dos candidatos, mais comprometidos com a pregação da responsabilidade institucional e do equilíbrio de propostas, apelaram à serenidade de ânimos. Calibraram o tom dos programas. Alguns de maneira disfarçada, buscando esconder reais convicções, outros efetivamente convictos. O tucano Geraldo Alckmin, que hegemonicamente representa o centro ideológico e defende reformas — a maioria delas inevitáveis, sem dúvida —, parece ter acertado com a mensagem do “não é na bala, nem na faca”, fazendo frente à tese de muitos adversários que querem armar a população. De uma maneira ou de outra, está em curso um duro teste para medir a maturidade da democracia brasileira. Resvalar para uma Venezuela caótica ou para uma ditadura militar autoritária e sexista ainda permanece como alternativa concreta no horizonte, o que seria um triste fim. É preciso o engajamento dos brasileiros na pacificação. Que todos reflitam sobre os perigos da via contrária. Qualquer pendor de inspiração autoritária ou anárquica colocará o Brasil numa era de incertezas e de profunda turbulência. Pelo bem geral da Nação, é melhor evitar.
Carlos José Marques

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