Raimundo Correia era de um escrúpulo doentio ao lavrar as suas sentenças de juiz. Certa vez, foi ter-lhe às mãos um processo movido contra Medeiros e Albuquerque por um fornecedor que pretendia receber duas vezes uma conta de novecentos mil réis. Chamado à casa do poeta-magistrado, Medeiros encontrou-o abatido, desolado.
- Sabes - comunicou-lhe Raimundo, há nove noites não durmo por causa deste processo. Vou jurar suspeição.
- Mas, pelos autos, eu tenho ou não tenho razão?
- A conclusão que eu tiro, - informou o autor do "Mal Secreto", - é que a razão está contigo. E aí é que está o meu escrúpulo.
- ?...
- Há nove noites eu pergunto a mim mesmo: mas eu acho que o Medeiros tem razão porque tem mesmo, ou é porque o Medeiros é meu amigo?
E passou adiante a papelada.
Medeiros e Albuquerque
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