Em outras páginas há registros similares: “Marcelo, 21 de mayo. + 30 mil dólares”; “Marcelo, 24 de julio. + 30 mil dólares”; “Marcelo, 10 de enero de 2011. + 70 mil dólares”...
A agenda é de Nadine Heredia, 39 anos, mulher de Ollanta Humala, que presidiu o Peru de 2011 até julho do ano passado.
Em Lima, há certeza de que Odebrecht pagou a campanha de Humala em 2011, com o venezuelano Hugo Chávez. Também doaram Camargo Corrêa, OAS, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão, donas de US$ 4,2 bilhões em contratos.
As evidências coletadas no eixo Curitiba-Brasília-Lima indicam que a eleição peruana de 2011 teve intervenção de Lula e Chávez e dinheiro de empresas brasileiras. O modelo foi repetido na Argentina, Paraguai, Equador e Bolívia.
Chávez pagava as contas do casal desde a fracassada campanha de Humala em 2006. O dinheiro venezuelano era lavado no caixa de ONGs, entre elas a Prodin, coordenadas por Nadine. Ela participou ativamente das decisões mais relevantes do governo do marido.
O governo Lula uniu os Humala aos grupos brasileiros, que contribuíram até com pacotes de dinheiro amarrados ao corpo dos emissários. O PT enviou dirigentes e indicou publicitários para a campanha.
As relações fluíram. Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e OAS já mantinham negócios — agora sob investigação — com os governos de Alan García (2006-2011) e de Alejandro Toledo (2001-2006), derrotado por Humala em 2011.
Planilha apreendida na Camargo, com o título “Previsão de Capilés”, detalha pagamentos peruanos. Parte foi para a conta nº 0308478009 do Citibank em Londres (swift CITIGB2L), do israelense Yosef Maiman, que exibia credenciais de embaixador do Turcomenistão.
O operador da Camargo era Marcos de Moura Vanderley, também conhecido pelo relacionamento com Rocío Calderón, amiga da ex-primeira-dama. No governo, Nadine deu a Rocío a diretoria do Conselho das Contratações do Estado. Rocío emprestava-lhe seus cartões de crédito para compras. O Congresso produziu 300 páginas das contas privadas de Nadine.
Em fevereiro, ainda no governo, ela pediu socorro a José Graziano da Silva, ex-ministro de Lula e diretor-geral da FAO, que lhe deu uma chefia em Genebra. Para garantir imunidade diplomática à amiga , Graziano removeu do cargo Xiangjun Yao, designada pela China, e atropelou normas sobre chefias na ONU — entre elas, a exigência de diploma universitário. Nadine e o marido vivem sob vigilância. A Justiça obrigou-a informar com antecedência suas viagens, sob compromisso de retornar a cada 30 dias. Em Lima, continua a caça a “Calvito barbudo”, o brasileiro que presenteou o casal com US$ 10 milhões.
José Casado
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