Mas não é a hipótese principal. As águas não estão correndo para este moinho, ao contrário. Talvez Dilma e Lula estejam descobrindo, tardiamente, que não basta apenas instalar o mercado persa. Há de se ter credibilidade na palavra empenhada. E o histórico do governo Dilma é de uma relação autocrática, de desconfiança dos políticos, de não cumprir acordo, de nunca, absolutamente nunca, tê-los como parceiros.
Quando o governo era forte, os partidos da base engoliam a relação subalterna, mesmo sendo esnobados solenemente em diversos momentos. Com Dilma enfraquecida e surgindo outro polo, a coisa muda de figura.
Mais uma vez, confirma-se a lei da política segundo a qual a expectativa de poder atrai mais do que o próprio poder. PP, PR, PSD e peemedebistas governistas preparam as malas para pular do navio e se jogar nos braços do vice Michel Temer. Eis aí uma das grandes razões da implosão do neo-centrão, também chamado de nova “repactuação” pelo ministro Jacques Wagner.
Conspira contra a presidente seu próprio discurso. Sem governar de fato há meses, Dilma semeia desesperança e prega o medo em seus palanques. Não acena nem com lamparina no fim do túnel, não aponta saídas para a crise que ela, seu antecessor e o PT meteram o país. Sua única preocupação é a sobrevivência do seu mandato, daí o discurso monocórdico do “não vai ter golpe”.
É muito pouco para se construir qualquer base de apoio, quanto mais sólida.
O que teria a oferecer o governo Dilma caso sobreviva ao impeachment, além da repartição do butim ministerial?
Esse discurso não encanta, sobretudo quando é cotejado com o do seu vice-presidente, cujas palavras de pacificação, união, prioridade para enfrentar os problemas econômicos soam como música nos ouvidos de parlamentares, do mundo empresarial e de boa parte da sociedade.
Independentemente do juízo de valor do vazamento do áudio de Temer, o concreto é que ele estabeleceu um contraponto ao discurso presidencial.
Dilma constrói muros, aprofunda a divisão dos brasileiros, insinua com uma “oposição selvagem”, caso o impeachment prospere.
Da presidente só se houve anátema e mais anátema. Temer se apresenta como construtor de pontes, prega o diálogo, acena com um “governo de salvação nacional que reúna todos os partidos”.
O eixo gravitacional da política está, portanto, em mutação. A presidente é uma estrela cadente que vai perdendo seus últimos raios de luz, se é que já emitiu alguma luz. Partidos e parlamentares da base governista deixam de orbitar o Palácio do Planalto e passam a girar em torno do Palácio Jaburu, até por instinto de sobrevivência.
O deslocamento dos astros não deixa margens para dúvidas. Um governo que há 16 meses tinha uma base parlamentar mastodôntica, hoje está em palpos de aranha para assegurar o apoio necessário para inviabilizar o processo de impeachment.
E é bem possível que não consiga. O contingente de parlamentares favoráveis ao impedimento da presidente vem crescendo continuamente. Nem mesmo toda a articulação de Lula, tem sido capaz de reverter essa tendência.
Nada, porém, está dado ou decidido. Ninguém morre de véspera. Mas Dilma começará o round decisivo já nas cordas. Se não tiver muito jogo de pernas, e esse não é o seu forte, será nocauteada no dia 17. E sem qualquer chance de o Senado alterar o resultado.
Hubert Alquéres
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