quinta-feira, 31 de março de 2016

Nem heróis, nem redentores, nem salvadores da pátria

Um perigo ronda o Brasil, submerso em uma crise que a cada hora se revela mais profunda e sem que apareça no horizonte uma saída que possa aglutinar toda a sociedade sem que esta se deixe arrastar pela violência verbal e até física.
O perigo é que se deposite a esperança de superação da crise na chegada milagrosa, como um presente dos deuses, de um herói, um redentor ou um salvador da pátria, que de forma mágica devolva ao país o que lhe foi roubado por um mau Governo e pela corrupção sem precedentes históricos.

A preocupação de muitos cidadãos desejosos de que a crise seja superada sem maiores rupturas é que não surge no horizonte ninguém capaz de realizar esse milagre.

E se essa ausência de um feiticeiro da política fosse a maior garantia de que a crise se resolva do modo mais democrático e moderno?

Há quem não aposte na divisão, nas guerras, nem no “nós contra eles”, e menos ainda em pirotecnias incendiárias ou em manobras gattopardescas nas quais tudo muda para continuar igual.

São ainda milhões os que preferem a sensatez, o diálogo, a busca por soluções realistas, não fantasiosas. São eles os que rechaçam a política da revanche, que acaba arrastando para o pior.

O novo vocábulo “sensatez”, oposto de insensatez, começa a aparecer, temeroso, na boca de quem prefere pensar numa solução viável da crise, que implique limar arestas, juntar ideias distintas, dialogar até a exaustão.

De pouco serve para a solução de um drama lançar pedras contra os personagens. Sempre foi assim que se engendraram as guerras.

A solução das crises só aparece quando os diferentes são capazes de se sentar à mesa para procurarem juntos soluções possíveis, não milagrosas. Não existem atalhos para resolver uma crise política ou econômica. As mágicas só funcionam nos palcos da diversão.

Fariam mal os cidadãos de qualquer coloração política se ficassem à espera de um redentor. A política das grandes democracias não funciona assim. Isso é fruto dos populismos pseudorreligiosos.

O Brasil tem hoje, paradoxalmente, a oportunidade de dar ao mundo um exemplo de como se pode superar uma crise juntando as partes de sensatez que ainda existem.

O “são todos iguais”, ou seja, ladrões e corruptos, leva indevidamente à busca do santo, do mago, do salvador capaz de tirar o país do poço onde se encontra afundado.

O Brasil ainda pode ser capaz de oferecer uma solução à crise se conseguir juntar esses pedaços de sensatez e de ideias não viciadas pela paixão, que coloquem novamente o país no caminho de uma democracia mais forte, já que ele ainda conta com instituições que estão funcionando em liberdade. Se conseguir, estará dando um exemplo de maturidade democrática ao continente e ao mundo.

Antecipar, pelo contrário, por um ou outro lado, que qualquer que seja a solução da crise de Governo, venha o que vier depois, não terá como governar é não só confessar a incapacidade do sistema, como também o anúncio de um suicídio.

Se de fato é grave a responsabilidade de quem engendrou a crise que atormenta o Brasil, pior é a daqueles que, como profetas e justiceiros, já anunciam o “não passarão”, que se traduz em um “não os deixaremos governar em paz”.

A História nunca perdoa quem aposta pelos extremos.

Hoje, no mundo, existe melhor qualidade de vida, menos injustiças sociais e menos pobreza onde se governa a partir do centro, com o máximo de consenso e com a maior participação dos cidadãos na gestão e no controle de quem exerce o poder.

Sem necessidade de heróis, magos nem redentores que acabam poluindo e desvirtuando a democracia e reduzindo as liberdades.

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