A Lava Jato não foi deflagrada para “pegar Lula”. Ainda está longe disso. No mês que vem, a operação completa dois anos. Os resultados são mais modestos do que parecem se você não é do tipo que saliva ao pensar num empreiteiro preso. A urdidura criminosa que se foi revelando só faz sentido se pensada à luz da consecução de um projeto de poder. Não estamos diante de um assalto ao Estado que repita um padrão ou que reforce as posições de mando dos poderosos de sempre.
Ninguém é ladrão por força da gravidade ou de escolhas que outros fizeram em seu nome. Rico ou pobre, pé de chinelo ou do colarinho-branco, é preciso que haja a disposição subjetiva para tanto, o exercício de um talento. As circunstâncias da Fortuna vão indicar se o sujeito será um Marcola ou o comandante de um aparelho que fará a máquina pública girar primeiro para alimentar os anseios desse ente e, secundariamente, para atender às demandas da sociedade. Ou por outra: é possível aplicar Maquiavel para entender tanto os Príncipes como os sapos.
Quando as pessoas, entre a indignação e o desalento, vêm perguntar se, “desta vez, pegam o homem”, expressam uma leitura bastante sóbria da realidade, instruída pela lógica comezinha, que organiza a vida. Dada a importância que ele tem no PT –nunca lhe faltou polegar para decidir quem vive e quem morre no partido–, como acreditar que esquemas de tal magnitude, mensalão e petrolão, pudessem ser erigidos ao arrepio de quem, na legenda ou fora dela, não esconde onisciência, onipresença e onipotência? Qualquer semelhança com o Altíssimo não é coincidência, mas parentesco.
O direito, na área penal, se alimenta das provas, e não será este escriba a contestar jamais esse fundamento. Ao contrário! Já cheguei a ser vítima de alguns espadachins da reputação alheia em razão do meu legalismo. Mas me parece evidente que a população, por sua conta –e isto leva o PT ao desespero– está chegando aonde a Lava Jato, até agora, não chegou. E não chegou, em alguns casos, porque ainda não pôde. Mas também porque não quis: é um escândalo autoexplicativo que Lula não seja um dos investigados no caso do empréstimo concedido ao PT, e jamais cobrado, pelo banco Schahin.
É verossímil que o PT acuse a pretensão de “pegar Lula” porque, de fato, essa voz está nas ruas. Mas é falso que tenha sido esse, desde sempre, o desiderato da operação. Ao proclamar tal falsidade, porém, o próprio partido revela aquilo que gostaria de esconder: se estão dizendo que o “ente petista” fez tudo isso, é claro que não havia como Lula não saber. É precisamente ao acusar a perseguição que o PT se revela e confessa.
Chega a ser quase anedótico, dado o tamanho do Império Petista, que Lula tenha se metido num emaranhado envolvendo um apartamento e um sítio mixurucas. Até agora, as explicações só contribuíram para desmoralizá-lo sempre um pouco mais.
O Príncipe da Nova Era ainda vai terminar seus dias como o Sapo de Guarujá.
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