quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Males antigos

O país sofre de males antigos. Por incapacidade política e despreparo econômico, prossegue a ininterrupta expansão dos gastos públicos como percentual do PIB há mais de quatro décadas. Experimentamos em decorrência a hiperinflação, crises cambiais e moratória externa, sequestro da poupança, endividamento interno em bola de neve, insanidade tributária, juros obscenos, inflação persistente e perda da dinâmica de crescimento.

A mecânica perversa de irrefreada ampliação dos gastos públicos foi disparada no regime militar e compreensivelmente exacerbada pela incapacidade política e pelo despreparo econômico de uma social-democracia hegemônica ante as legítimas pressões sociais de uma democracia emergente.

A tragédia brasileira registra o mais longo esforço anti-inflacionário da história universal.


Iniciamos 2016 com as irrefutáveis evidências da corrupção sistêmica na dimensão política e com a escalada do desemprego em massa na dimensão econômica.

A corrupção e o desemprego são sintomas de um duplo colapso: teremos de mudar ainda neste ano nossas formas de fazer política e tocar a economia. A reforma política e a mudança de regime fiscal seriam a confirmação do amadurecimento de nossas instituições.

Na política, os sucessivos escândalos refletem uma transição inacabada do Antigo Regime para a Grande Sociedade Aberta. É inaceitável que a única forma de conduzir as atividades políticas, desde o financiamento de campanha até a obtenção de maioria parlamentar, seja esta roubalheira.

Na economia, a essência de uma estabilização rápida e com pouco sacrifício da produção e do emprego é a fulminante reversão das expectativas sob um novo regime fiscal, acompanhado de reformas de modernização.

Em poucos meses teremos a definição do atual impasse político. O aprofundamento da recessão e o aumento do desemprego garantem o desgaste cada vez maior do governo perante a opinião pública. E medidas de sempre, como o aumento dos juros e dos impostos para controlar a inflação, agravam o quadro recessivo, contribuindo também para a impopularidade do governo.

Não compreendo como possa a presidente desperdiçar a oportunidade de dar um cavalo de pau nos gastos públicos espetando a conta política no Plano Temer, do PMDB, antes que seja tarde.

Paulo Guedes 

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