domingo, 24 de janeiro de 2016

Dilma cai na opinião pública ao criticar a Lava-Jato

Numa entrevista à repórter Natuza Nery, Folha de São Paulo, edição de sábado 23, a presidente Dilma Rousseff, criticou o que considera pontos fora da curva na operação Lava-Jato. Não percebeu que tal atitude acarreta sua queda nos pontos positivos que ainda possui na opinião pública. Jogou contra si mesma, torceu para o lado errado da questão. Seu gesto provavelmente vai se refletir nas próximas pesquisas do Datafolha e Ibope a respeito de sua imagem na sociedade de modo geral.

Dilma Rousseff sustentou que há coisas que não estão corretas na operação Lava-Jato desencadeada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Referia-se a delações premiadas e o vazamento de seu conteúdo na imprensa. “É impossível alguém ser questionado durante os interrogatórios com base no diz que disseram”. Depois que saiu publicado os acusados estão lascados, acrescentou.

A presidente da República se esqueceu de que existem provas e mais provas acumuladas contra os personagens acusados. A primeira delas facilmente se encontra na falta de explicação razoável para acumulação de patrimônios incompatíveis com os salários recebidos normalmente por ex-dirigentes da Petrobrás, por exemplo. Em segundo lugar não tem lógica que alguém afirme ter praticado corrupção, intermediando propinas gigantescas e tais versões não serem verdadeiras. Principalmente pelo volume dos casos narrados de assaltos repetidos aos recursos da empresa estatal.

Há duas leis irrevogáveis envolvendo a condição humana, para citar o título da obra famosa de André Malraux: a lei da gravidade e a lei do menor esforço. Relativamente a esta segunda daria muito mais trabalho aos delatores recorrerem à ficção do que informarem a verdade do que aconteceu. Até porque a verdade narrada os compromete profundamente. Da mesma forma não pode ter o menor cabimento o fato de empresários revelarem terem pago comissões ilícitas, se tal acontecimento não houvesse sucedido. A delação não envolve apenas um empresário e um executivo de empreiteira. Ao contrário, envolve dezenas dos proprietários das empresas e também os executivos que participaram das operações conjuntas de suborno.

A corrupção é algo que exige parcerias e, no fundo da questão durante anos atingiu em cheio a Petrobrás, através do superfaturamento de contratos. Os prejuízos foram imensos e passaram à opinião pública a plena sensação de descontrole tornando nítido o cenário de assaltos gigantescos repetidos.

As doações a partidos políticos funcionaram como acobertadoras de atos de corrupção. Tanto assim que, além do STF ter proibido tais doações, a própria presidente Dilma Rousseff vetou um projeto aprovado pelo Congresso Nacional que as restabelecia. Como então deveria ela ignorar as evidências que ela própria com a caneta condenou? Ela esqueceu sua própria decisão e não considerou também os reflexos negativos para si própria das declarações que fez a Natuza Nery. Faltou sensibilidade política e, sobretudo, faltou coerência a presidente da República. A Operação Lava-Jato vem alcançando êxito pleno. É um fato. E contra fatos não há argumentos capazes de modificá-los.

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