Na sexta-feira, o mundo comemorou a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos em favor do casamento gay. Um avanço extraordinário. Os perfis coloridos tomaram conta do Facebook, em uma belíssima sacada do criador da rede, Mark Zuckerberg. Milhões de fotos e vídeos ocuparam o Instagram e o YouTube.
Por absurdo que pareça, a votação apertada nos EUA – 5 x 4 – foi mais festejada no Brasil do que a do Supremo, que, em 2011, reconheceu as uniões homoafetivas. E por unanimidade. Desde 2013, seguindo instruções do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os cartórios não podem recusar a celebração de casamentos civis de casais do mesmo sexo. Simples assim.
O STF foi mais avançado do que o governo poderia supor. Dominou o espaço a que o Executivo se furtou e que o Legislativo se recusa a ocupar. E, ainda que não fosse o objetivo da Corte, acabou por roubar bandeiras que o PT adora explorar, como se delas fosse dono.
Ao contrário do que se viu agora, há quatro anos, os festejos oficiais em favor da união gay foram tímidos ou quase inexistentes. Talvez por dificuldades junto aos bispos, ao eleitorado evangélico e à fortíssima representação que eles têm no Congresso.
Agora, em baixa, Dilma elogia a decisão tomada lá fora, e, assim como Lula, colore o seu perfil.
Tudo oportunismo.
Aproveitam-se da incompetência e da falta de jeito da oposição, que nem mesmo notou o movimento nas redes sociais. Sem se manifestar nem na voz nem nas cores, oposicionistas abrem brechas para fazer valer a pecha de conservadores que o PT tenta impor a quem dele discorde.
Assim como a reforma política – aquela que todos os detentores de mandato mentem querer e pouco mais de uma dúzia querem - a tal agenda progressista que Dilma, Lula e o PT dizem apoiar é coisa para inglês, ou melhor, norte-americano ver.
Prova disso é o silêncio quando o recém-eleito presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), declarou que para votar o aborto teriam de passar por cima de seu cadáver.
Mais: Cunha, um dos ícones dos evangélicos, ressuscitou a impossibilidade de adoção de crianças por casais do mesmo sexo. Driblando o regimento, ele criou uma comissão para estudar o tema vencido na legislatura anterior. Dilma e o PT não deram um pio.
Sem que o governo metesse a colher, nos direitos civis o Brasil sempre foi exemplar.
Em 1951, a Lei Afonso Arinos penalizou qualquer tipo de discriminação por raça. Nos EUA, a segregação racial só deixou de existir a partir de 1964. E mesmo que nossas representações políticas sejam retrógradas, graças ao STF também estamos à frente no casamento homoafetivo e na adoção por casais do mesmo sexo.
Nesta semana, Dilma encontra-se com Barack Obama. Depois de tanto bater pé, poderia até posar como progressista. Mas não, fez muxoxo. Em entrevista ao jornal Washington Post, se fez de vitima ao se dizer discriminada por ser mulher.
Uma bobagem sem tamanho. Quase supera a ode à mandioca ou a piada da mulher sapiens.
O Brasil, felizmente, é mais avançado e maior que a sua governante. Dela, pouco se espera. Não tem nem cor nem rumo. Até que o Parlamento encontre algum juízo, ao STF pertencem os elogios e todas as cores.
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