Se a guerra era apenas contra os cartéis do tráfico na América Latina, agora os EUA pretendem enfrentar as quadrilhas organizadas da corrupção. Pegaram pesado contra a Petrobras pelos rombos aos fundos que nela investiram, e não poderia ficar de fora a Fifa, que rapa, da paixão do mais difundido esporte no planeta, bilhões a cada ano.
Surgiu como uma atividade econômica ilícita relevante, uma máfia transnacional.
Na primeira leva de prisões, todos os sete conduzidos ao cárcere pertencem a países das Américas Central e do Sul. Destaque para o brasileiro José Maria Marin, que esteve à frente da CBF e da realização da Copa do Mundo de 2014.
Os Estados Unidos não se conformam, ao que tudo indica, com a exclusão de sediar as últimas Copas “leiloadas pela Fifa”. Apesar de o país oferecer condições operacionais e financeiras melhores que qualquer outro competidor, de garantir rendas e público.
A decisão de brindar o minúsculo Catar e até de mudar o calendário para abrigar a Copa do Mundo no deserto das Arábias, onde o petróleo jorra abundante, teria sido tomada em bastidores de figuras que saem de suas tocas apenas para garfar vantagens pessoais e ilícitas.
Figuras sem expressão, sem história no futebol, mas com voto que decide o destino de bilhões de dólares movimentados pelos torneios internacionais de futebol. Pessoas que, ocupando os vértices da Fifa, de regra, amealham fortunas pessoais que chamam a atenção pelo luxo e pela fartura.
Para ser escolhido sede de Copa do Mundo, o problema está exatamente em ganhar o leilão informal, a disputa de foice entre essas personagens cuja bússola se volta para o lado mais rentável aos bolsos deles.
Na Fifa os 209 votos, um por país, independentemente do peso e da tradição, se concentram numericamente na América Central e no pulverizado Caribe, com 38 membros, e na América do Sul, dez membros, mais 52 no continente africano, que, por afinidades étnicas e culturais com o outro lado do Atlântico, se movimenta pela mesma maré.
Os cem votos, redondos, desse blocão que se regula no mesmo diapasão têm poder absoluto e suplantaram os mais tradicionais e mais representativos países da modalidade.
O voto das Ilhas Cayman vale como o da Inglaterra. Bem por isso, na cúpula da Fifa, a maioria dos membros, como a lista de prisões decretadas pela Justiça dos EUA demonstra, chega a ser ocupada por eles. Coincidentemente, são países que ocupam os vértices do ranking dos mais corruptos e violentos do planeta.
Gera falta de remédios, de assistência social, de educação, de serviços públicos, de aposentadorias mais generosas. Suga silenciosamente e mata mais que as drogas.
Portanto, é justa essa decisão de entrar nessa luta sem fronteiras contra a corrupção, que já fugiu do controle e ameaça assombrosamente a humanidade.
Vittorio Medioli
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