quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Papai Noel: um bilhão de dólares para as eleições de 2020

A televisão, particularmente, tem insistido nesses últimos trinta dias em disponibilizar dezenas de filmes com temas natalinos, relacionados com o amor, a solidariedade, a paz e a compaixão, contrapondo-os à enxurrada de enlatados policiais que tomou conta da telinha e da vida das pessoas, usurpando delas o tempo de recolhimento compulsório provocado pela pandemia.

O mundo natalino da TV tem direito, inclusive, a uma rainha: All I Want for Christmas Is You (Você é tudo que eu desejo no Natal), de Mariah Carey, que se insinua misturar a música pop com a sacralidade de Maria, mãe de Jesus. A música, lançada em 1994, ganhou popularidade em 2020, e graças ao sucesso alcançado, Carey passou a ser distinguida como a “Rainha do Natal”.

Diria que o espírito de Natal, às vezes um pouco piegas, seria uma espécie de” Agenda Positiva" para a sociedade, com a pretensão de amenizar a angústia de uma população cristianizada, desempregada e faminta, envolvida por uma retórica inconsequente de pessoas e políticos confusos, desocupados ou oportunistas. Fora da telelinha o cenário é dramático. Aqueles que se arriscam a dar uma volta pelas ruas das cidade brasileiras ou os leitores de jornal podem se surpreender com a cotidianidade, e os fatos correntes.


"Creche fecha e deixa 150 crianças sem abrigo". "Favelados abandonam os barracos para pedir ajuda nas ruas". Asilo está sem recursos para o atendimento regular a idosos". "Escola não tem dinheiro para alimentação das crianças ". As situações se repetem por todo o País, ao longo de toda história brasileira: a pobreza, a desigualdade, a fome e o analfabetismo. Repetem-se de governo à governo. O quadro social do Brasil é esse. Não tem assistência social ou política pública que chegue aí. Só estatísticas manipuladas e conversa fiada.

Jamais se venceu neste País esses inimigos reais da população e, é de se imaginar que, nem aprovando um rombo de R$ 113 bilhões para o Orçamento de 2022, esses problemas serão erradicados com se anuncia, com alto grau de vulgaridade, no mundo político. Vivenciar um quadro desses tira toda a motivação positiva e sacra que as comemorações de Natal possam conter.

Com o fim de tentar arrecadar fundos auto sustentáveis para melhorar as condições de vida de favelados, Carlos Lacerda, quando governador do Rio de Janeiro, com toda aquela inteligência, propôs pintar os barracos (Favela colorida) para atrair turistas. O governador do DF, aparentemente, pensa em coisa similar. Dobrou os recursos para financiar a iluminação de Brasília, que já é, sem dúvida, uma das melhores no mundo.

Os pedintes e desempregados vivendo em regime de pobreza absoluta estão espalhados pelas cidades brasileiras: na porta dos bares, das padarias, dos restaurantes, dos supermercados, nos estacionamentos, nos sinais de trânsito. Nas proximidades do campus da Universidade Brasília, há seis quilômetros da Praça dos Três Poderes, forma-se uma colmeia de barracos construídos com entulhos dos lixões, e cobertos com sacos plásticos. Há crianças por todos os lados. Um cartaz rústico, fincado ao longo da via que dá acesso à Praça, montado de parte de uma caixa de papelão, apela: "Ajude-nos a matar a fome neste Natal!"

Difícil de entender. O quadro aqui fora não combina com a euforia e as conquistas dos 513 deputados e 81 senadores, ao derrubar os vetos presidenciais ao Orçamento Geral para 2022. Ignorando o cenário com alto índice de desemprego e pobreza, no Congresso, os políticos festejam a dinheirama que conseguiram aprovar para financiar a campanha eleitoral de 2020: R$ 5,7 bilhões (Mais de um bilhão de dólares) para a realização das eleições; R$ 1,7 para o fundo partidário (US$ 450 milhões de dólares; e R$17,00 bilhões (3 bilhões de dólares) para as emendas parlamentares. E ainda aprovaram o tal estouro no Orçamento para 2022 de R$ 113 bilhões (2 bilhões de dólares).

Não se trata nem de festa. É farra mesmo com o dinheiro dos contribuintes, empresas, empresários e trabalhadores. São 35 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral, 28 com representação no Parlamento brasileiro (…) e pelo menos 52 tentando se organizar a tempo para as eleições de outubro e, assim, atrair para si parte desses recursos.

É o financiamento público da campanha eleitoral, que conta ainda, em alguns lugares, com inconfessáveis aportes privados. O brasileiro nem desconfia do que está acontecendo. O Brasil é um dos país, entre os 25 no mundo, que mais gasta com o processo eleitoral. Desta vez, contou também com a ajuda de Noel.

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