quarta-feira, 10 de novembro de 2021

O show do capitão é velho e ruim

Bolsonaro anunciou que sentará praça no PL do deputado Valdemar Costa Neto, a quem já chamou de “corrupto” e “condenado”. Para um presidente que tem como chefe da Casa Civil um senador que já o chamou de “fascista”, essas são salvas trocadas entre figurantes daquilo que o general Augusto Heleno chamou de “o show político”.

Bolsonaro quer o apoio desse tronco do Centrão e, acima de tudo, quis evitar que Costa Neto flertasse com uma coligação petista. Já o cacique do PL quer o apoio do governo para lubrificar seus candidatos ao Congresso. Nessa disputa, o resultado da eleição presidencial é secundário. Quem acreditou nas virtudes econômicas do grafeno e da cloroquina, bem como nas “bancadas temáticas” que dariam sustentação ao governo, foi rebaixado na qualidade da empulhação que consome.

Valdemar Costa Neto é um prodígio político. Move-se no escurinho de Brasília. Quase sempre acerta, mas em 2012 tomou uma condenação de sete anos, cumpriu parte em regime semiaberto, trabalhando numa padaria cujos brioches apreciava. Vestiu o galardão da tornozeleira eletrônica e acabou beneficiado num indulto coletivo. Suas raízes eleitorais estão em Mogi das Cruzes (SP), onde ganhou o apelido de Boy. É um mestre nas armações de bastidores, capaz de passar despercebido no mundo dos holofotes federais.

(Perde, de longe, para o chinês Zhang Daqian, que chegou a sua cidade no final dos anos 40 e lá viveu por algum tempo sem deixar rastros. Zhang acumulava dois títulos: era ao mesmo tempo um célebre pintor e o maior falsário de pinturas antigas chinesas.)

As alianças de Costa Neto têm a autenticidade das pinturas de Zhang, e é bom lembrar que ainda há quem pague bastante por elas. Pelo lado do capitão, esse acerto tem um presente promissor, mas seu futuro é incerto. Não lhe faltam candidatos a ministros, mas coisas estranhas acontecem na sua máquina.

Bolsonaro elegeu-se por um partido, o oitavo de sua carreira política, anunciou que criaria outro, não conseguiu, ciscou aqui e ali e finalmente chegará ao PL. Três ministros (Santos Cruz, Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro) tornaram-se adversários. O “Posto Ipiranga” de Paulo Guedes perdeu 21 integrantes. Nem todos foram embora porque estavam desconfortáveis, mas todos sentiram-se melhor. Num só dia, 35 servidores do Inep pediram o boné. Noutro, 21 cientistas devolveram os crachás da Ordem Nacional do Mérito Científico.

Baixas em governos são coisas da vida, mas o mandarinato do capitão tem um aspecto inédito: ninguém ficou menor saindo. (Noves fora Ricardo Salles e Ernesto Araújo.) O raciocínio inverso é dramático, Paulo Guedes ficou menor. Essa perda de escala é mais significativa quando se sabe que ele acumulou ministérios e instituições com voracidade e inexperiência jamais vistas.

O general da reserva Augusto Heleno classificou a metamorfose bolsonarista como parte do “show da política”, desclassificando muito mais o tipo de espetáculo em que se meteu. A política tem sempre algo de show, mas o do capitão tem o travo das velharias de má qualidade.

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