terça-feira, 13 de outubro de 2020

Faltam educacionistas

O Brasil tem alguns dos mais renomados educadores do mundo e um dos sistemas educacionais de pior qualidade. A explicação é que não temos educacionistas. Educadores definem métodos, educacionistas determinam metas, estratégias, políticas. O educador é como o cientista que descobre a vacina, o educacionista é o sanitarista que desenha a logística para a distribuição da vacina.

Para o educacionista, a educação é o vetor do progresso. Ele acredita que o Brasil precisa escolher uma estratégia para atingir excelência educacional e assegurar que, desde a primeira infância, todo brasileiro tenha acesso à educação com a máxima qualidade. A estratégia educacionista passa pelo envolvimento do governo federal na educação de base. Toda criança deve ser primeiro brasileira, não municipal.

Para alguns educacionistas, o caminho seria o governo federal transferir a cada família o mesmo valor necessário para que ela busque a escola de seus filhos. Para outros, essa solução não traria igualdade. Por isso, há quem proponha aumentar o valor do Fundeb por criança, deixando cada prefeito administrar as escolas de seu município. E há os que acreditam que esse caminho não quebre a desigualdade entre cidades, porque a educação exige professores bem-formados e capacidade gerencial que não estão disponíveis na cidade.



Um terceiro grupo de educacionistas defende a substituição paulatina dos frágeis sistemas municipais por um robusto sistema nacional único: uma carreira federal de professores com requisito mínimo de formação, dedicação, avaliação e plano de remuneração, padrões nacionais para a qualidade de edificações e equipamentos.

Para obter excelência, o custo de cada aluno deve ser de cerca de R$ 15 mil por ano, que permite pagar um salário de R$ 15 mil por mês ao professor, em salas com 30 alunos, e financiar todos os demais gastos da escola. Se a implantação desse sistema ocorresse ao ritmo de 200 novas cidades por ano, o sistema nacional se completaria em 25 a 30 anos. Supondo que se mantenha o número de 50 milhões de alunos, e assumindo um crescimento econômico de 2% ao ano, com a manutenção da atual carga fiscal, o custo total, ao final dos 25 anos, não passaria de 6,6% do PIB. Essa alternativa é necessária e possível.

Quatro fatores dificultam que o Brasil aceite o educacionismo. Nossos líderes não veem educação como vetor do progresso; a mentalidade nacional não tem o sentimento de que o Brasil é vocacionado para a produção intelectual com padrões de qualidade internacional; nossa consciência sofre resquícios da escravidão e aceita a ideia de que a escola não deve ter a mesma qualidade para todos; e o imediatismo brasileiro não quer esperar os resultados de uma estratégia que demora décadas para chegar a todo o país.

Por isso, é mais fácil ter bons educadores do que educacionistas de sucesso.

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