O presidente da República se diz um homem espontâneo. Suas declarações escatológicas, na fronteira da insanidade e muito além da grosseria — a exemplo da política ambiental do cocô dia sim, dia não —, seriam a prova de sua autenticidade.
Palavras estapafúrdias tentam vender a imagem do improviso de um homem simples e sincero. Ora, a pretensa espontaneidade faz parte de uma estratégia complexa de manipulação fria das emoções mais irracionais, o medo, o ódio e o ressentimento. Desde a campanha eleitoral, o presidente segue à risca a cartilha de desinformação de Steve Bannon, coordenador da campanha de Donald Trump cujas digitais estão nas campanhas bem-sucedidas de Salvini na Itália, Orbán na Hungria e do Brexit no Reino Unido. O documentário “Privacidade hackeada”, disponível na Netflix, descreve as entranhas dessa estratégia.
É parte dela sua recente escolha de assumir, sozinho, a comunicação do governo. Em tom circense, de animador de auditório, suas palavras não são ditas a esmo, têm um propósito, um alvo certeiro: iluminam sua ribalta, pautam o debate, propagam mentiras, semeiam confusão. Convocam o que há de pior nas pessoas.
Nas redes sociais e na mídia se discute “a última do Bolsonaro”. Essa cacofonia abafa o ruído da demolição de tudo que se construiu na defesa dos direitos humanos, nas ações de proteção ambiental, no combate à proliferação de armas e preconceitos. Encobre a tragédia do desmatamento da Amazônia, a desmoralização dos centros produtores de conhecimento e das instituições que vertebram o Estado. O achincalhe internacional a que nos expõe a ridícula política externa. O ataque covarde aos artistas. O perverso desmantelamento da Comissão da Verdade. Esses atos são os verdadeiros excrementos que envenenam e poluem o Brasil.
Fake news, que foram constitutivas da campanha eleitoral, são essenciais ao seu modo de governar. O presidente “espontâneo” deve sonhar com dizer sua absoluta mentira, falando sozinho. A verdade é o fantasma que assombra esse homem.
Rosiska Darcy de Oliveira
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