quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Jair Bolsonaro leva ao balcão emendas e cargos

Às voltas com a necessidade de estabilizar o seu governo, Jair Bolsonaro decidiu trocar a autocombustão pelo pragmatismo político. Pressionado a dar um rumo à sua articulação política —eufemismo para a distribuição de benesses a deputados e senadores—, o presidente sinalizou a intenção de reativar o balcão. Fez isso em duas reuniões realizadas nesta quarta-feira, após a visita que fez ao Congresso para entregar a proposta de reforma da Previdência.


No primeiro encontro, Bolsonaro dividiu a mesa de almoço do palácio residencial do Alvorada com três expoentes do DEM: o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre. Participou do repasto também um coadjuvante: o deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), líder de Bolsonaro na Câmara. Decidiu-se acelerar a formação de algo que se pareça com um bloco governista no Congresso.

Serão levadas ao balcão três mercadorias: cargos em órgãos públicos federais situados nos Estados, algo como R$ 3 milhões em emendas orçamentárias para cada parlamentar que se disponha a votar com o governo e a perspectiva de associação da imagem dos governistas com obras inacabadas que o governo planeja reativar em diferentes regiões do país.

Num segundo encontro, Bolsonaro recebeu a bancada do seu PSL, machucada pelo escândalo das candidaturas fantasmas e pela queda de Gustavo Bebianno do posto de ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência. O anfitrião anunciou em primeira mão aos correligionários o que acertara na hora de almoço com a caciquia do DEM: vêm aí os cargos, as emendas e as obras. Onyx já havia acenado com a distribuição desse combo de fisiologismo. Mas foi a primeira vez que Bolsonaro avalizou a novidade.

A rendição do capitão ao toma-lá-dá-cá chega num período que um dos ministros militares do Planalto batizou de "fevereiro negro". Na véspera, a Câmara aproveitara a autocrise que Bolsonaro armou com o ex-amigo Bebianno para dar uma pancada no governo. Por um placar elástico —367 votos a 57—, os deputados eletrocutaram o decreto do Planalto que elevara o número de servidores com autoridade para impor o sigilo a dados sujeitos à liberação com base na Lei de Acesso à Informação.

O mesmo Rodrigo Maia que recostou os cotovelos na mesa do Alvorada fizera vista grossa para a articulação que resultara na primeira derrota legislativa de Bolsonaro. O capitão captou a mensagem: ou joga o jogo ou não terá os 308 votos de que precisa para aprovar a reforma da Previdência na Câmara. Foi para o beleléu a fantasia segundo a qual Bolsonaro obteria a governabilidade no Congresso acertando-se com grupos temáticos como as bancadas da Agricultura, da Saúde e da Bala.

Voltam ao proscênio, entre outros, os líderes de partidos que compõem o velho centrão. Comandam o espetáculo os profissionais do DEM, à frente Rodrigo Maia. O cerco a Bolsonaro foi acertado num jantar ocorrido no início da semana, na residência funcional do presidente da Câmara. Além de Maia, Alcolumbre e Onyx, participou o prefeito de Salvador, ACM Neto, presidente nacional do DEM.

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