Enquanto o capitalismo não for superado, é preciso tirar proveito de suas vantagens, dominando seus defeitos para fazer o mundo funcionar melhor, sob o controle da ética e da política. A tarefa dos homens de consciência social é usarmos o capitalismo para construirmos um mundo que evolua na eficiência, na justiça e na sustentabilidade, graças a uma estrutura social onde a produtividade do trabalho seja crescente; a natureza seja respeitada; a produção e a renda sejam bem distribuídas, conforme o talento e a persistência de cada pessoa. Um mundo onde haja plena liberdade e a desigualdade no acesso aos bens de consumo esteja limitada entre um Piso Social — que assegure o atendimento dos bens e serviços essenciais mesmo àqueles com baixa renda — e um Teto Ecológico — que impeça a destruição da natureza pela voracidade do consumo das pessoas com alta renda.
A história recente mostrou que a tentativa de realizar um mundo melhor, ignorando as leis da ecologia e do capitalismo, foi como saltar de um edifício sem levar em conta as leis da gravidade. O salto do térreo ao sexto andar é impossível; do sexto ao térreo é suicídio. A humanidade e cada sociedade nacional não devem cometer a estupidez de querer saltar para cima, sem respeitar etapas, como foi tentado pelo socialismo, pelo desenvolvimentismo apressado e pelo populismo; ou o suicídio civilizatório de ignorar a necessidade de políticas de proteção ambiental e social.
Enquanto o capitalismo durar, o elevador será a escola com a máxima qualidade e acesso igual para todos. Com isso, será possível construir uma sociedade com alta produtividade; distribuição de renda; consumo austero em relação aos limites da natureza; garantia de um mínimo de sobrevivência, inclusive para aqueles sem emprego e renda; baixa criminalidade e reduzido grau de corrupção.
Embora esteja longe de ser um sistema ideal, o capitalismo não impede a realização desses propósitos, se a sociedade contar com valores éticos que definam normas morais para a economia eficiente — sem escravidão, com respeito à natureza — e se por meio da política forem definidas prioridades capazes de orientar o uso justo dos recursos criados pela eficiência econômica, especialmente na garantia da igualdade no acesso à saúde e à educação. O capitalismo não é voo, mas pode ser o elevador.
Cristovam Buarque
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