A descrição traça o contorno do demagogo e, embora conhecida, renova-se a cada geração e colhe os louros de efêmeras vitórias.
E, se tem um lado sombrio, podemos procurar outro luminoso e bem mais raro em contraposição à fácil e vil demagogia.
“Não podemos esquecer-nos de alimentar até mesmo uma serpente esfomeada – ensinou o Mestre Budha –, controlando em nós o medo de vê-la voltar-se e morder a mão que a alimenta; não podemos esquecer a lei divina (Karma), que castigará quem foge e abandona os míseros ou se esquece de aliviar o pecador ou o desgraçado”.
Alimentar a serpente sem medo, oferecer a carne do nosso corpo ao tigre esfomeado!
Parece insanidade, mas a força firme e pura do bem pode anular o instinto do maléfico. Aí está a chave do milagre, da quebra da barreira. Assim como a cruz repele o diabo, o sentimento sem mancha aniquila o sombrio contrário. A luz faz desaparecer a escuridão, a força do bom pensamento amansa a besta, sacia seu apetite.
E aquela menina que foi violentada pelo bruto? O que fez de errado? Mal chegou a este planeta. Mas chegou, e chegou de outra esfera trazendo algo que possibilitou o horripilante crime? Como uma obra de barro, o infausto evento foi amassado por um diabo nas profundezas, invisíveis ao olho, que se estarrece diante da crueldade.
Acreditar? Sim, embora o santo monge, questionado pelo discípulo ao cair da escada: “Até tu, santo e imaculado?”, tenha respondido: “Sim, há 56 encarnações, pisei uma formiga inocente...”
E ainda é oportuno lembrar que a dor, em todas as suas formas, prefere os que procuram alcançar um desenvolvimento espiritual mais elevado. A dor é a expressão da benevolência superior. Per aspera ad astra.
Segundo o abade, não existe o mal como entidade, mas ele se revela na ausência do bem. Como a escuridão quando a luz se apaga. Quando a consciência se enfraquece, aparece o que definimos como mal e faz a festa, como rato na ausência do gato.
Como diria a inspirada Blavatsky, “uma vida limpa, uma mente aberta, um coração puro, um intelecto ardente, uma clara percepção individual, a fraternidade para com todos, a presteza para dar e receber conselhos e ensinamentos, a decidida resistência às injustiças pessoais, a intrépida defesa dos injustamente atacados, e, acima de tudo, uma visão constantemente voltada para o ideal, são a escada de ouro por cujos degraus um aprendiz chegará ao Templo da Sabedoria Divina”. E, quando essa vastidão se descortina, outro universo se ilumina.
A doce utopia, talvez, de um admirável mundo, que um dia chegará quando os méritos o deixarem surgir e ser realidade. Novo, livre, sem estruturas rígidas, pois cada homem saberá onde colocar-se fraternalmente, sem necessidade de pressão.
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