No meio da ação de transformação, Irmela foi pega no flagra por um policial e, agora, ela enfrenta um processo na Justiça. "O que está por trás deste lema é o ódio contra refugiados primeiramente e, somente depois, vem a Merkel. Por isso, resolvi transformar a frase pichada num slogan para a reflexão", explicou-me a simpática pedagoga.
Não alcançaremos nada, se não fizermos nada. E se você não fizer nada, quem vai fazer?
A ativista não se deu por vencida e recorreu da decisão. Sua defesa pede que ela seja declarada inocente. Irmela argumenta que o crime foi cometido pela pessoa que pichou o slogan, ela estava apenas cumprindo seu papel de cidadã ao removê-lo. Há mais de 30 anos, a aposentada dedica sua vida a limpar a cidade de adesivos e pichações xenófobas e neonazistas.
Esta missão começou por acaso. Depois de ver um adesivo neonazista colado próximo a sua casa, Irmela não teve dúvida de que aquele pedaço de papel remetendo a um passado monstruoso não poderia ficar ali. A limpeza a encheu de satisfação. Desde então, a aposentada se dedica a apagar mensagens deste tipo em várias partes da Alemanha e países da Europa.
O uso do spray para transformar pichações é recente. Irmela contou-me que a ferramenta é prática de se carregar na bolsa e bastante útil para slogans que não são fáceis de serem limpos.
Por seu engajamento, ela ganhou prêmios, mas, após o julgamento, ela devolveu dois que recebeu da cidade de Berlim, onde mora há 48 anos. "Os prêmios foram um reconhecimento pelo meu trabalho voluntário. A condenação, porém, transformou esse trabalho voluntário em crime", afirmou, ressentida.
Após o incidente em Berlim, Irmela foi pega novamente pela polícia pacificando pichações neonazistas no estado da Saxônia, onde agora enfrenta uma investigação.
"Não alcançaremos nada, se não fizermos nada. E se você não fizer nada, quem vai fazer?", disse em resposta a minha pergunta sobre o que a levou a iniciar essa jornada de limpeza de frases carregadas de preconceito que surgem do dia para noite em muros ou postes das cidades.
Clarissa Neher
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