terça-feira, 14 de junho de 2016

Gente louca

O gato sorriu quando viu Alice. Parecia bem disposto, mas , mesmo assim, tinha umas grandes unhas e muitos dentes, por isso era melhor tratá-lo com respeito.

- Gatinho - chamou Alice, bastante receosa, pois não estava certa que ele gostasse de ser tratado assim. Mas o Gato sorriu ainda mais. «Até agora não se zangou», pensou Alice. E continuou: - Podes dizer-me, por favor, como hei-de sair daqui?

- Isso depende muito do sítio para onde quiseres ir - respondeu o Gato.

- Não me interessa muito para onde...- disse Alice.

- Nesse caso, podes ir por um lado qualquer - respondeu o Gato.

- Desde que vá ter a qualquer lado - acrescentou Alice, em jeito de explicação.

- Oh, para que isso aconteça, tens de caminhar muito - disse o Gato.

Alice achou que isto era inegável e por isso tentou outra pergunta:

- Que espécie de gente vive por aqui?

- Naquela direcção - disse o Gato, levantando a pata direita - vive um Chapeleiro, e naquela, uma Lebre de Março. Vai visitar o que quiseres, são ambos loucos.

- Mas eu não quero estar ao pé de gente louca - respondeu Alice.

- Oh, não podes evitá-lo - disse o Gato. - Aqui todos são loucos. Eu sou louco. Tu és louca.

- Como sabes que eu sou louca? - perguntou Alice.

- Tens de ser, de outro modo não estarias aqui.

Alice não achava que isso provasse coisa nenhuma, mas continuou:

- E como sabes que és louco?

- Para começar, um cão não é louco. Aceitas isso? - perguntou o Gato.

- Creio que sim - respondeu Alice.

- Bem, nesse caso... - continuou o Gato. - Um cão rosna quando está zangado e abana o rabo quando está satisfeito. Ora eu rosno quando estou satisfeito e abano o rabo quando estou zangado. Por isso sou louco. 

Lewis Carroll, "Alice no País das Maravilhas"

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