quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A difícil situação do Leste Fluminense

Em novembro de 2007 foram iniciadas as obras do mais importante projeto da Petrobras na América Latina, um gigantesco complexo petroquímico, sediado em Itaboraí, um município do leste fluminense.

O processamento e refino da mistura dos hidrocarbonetos permitem a obtenção dos componentes que serão utilizados na produção de combustíveis, lubrificantes, fertilizantes, tintas e tecidos, por exemplo. Por isso, o complexo petroquímico adquiriu uma grande relevância para o desenvolvimento do Estado, com um investimento previsto de 8,4 bilhões de dólares, propiciando a criação de novas indústrias, o fortalecimento do setor de serviços e o crescimento sustentável do Estado.

Quando implantado, o projeto geraria mais de 200 mil empregos diretos ou indiretos, uma vez que inúmeras empresas transferir-se-iam para a região, constituindo importantes cadeias produtivas e de fornecedores do país.

Evidentemente, um empreendimento destas dimensões não poderia ficar restrito a um único município e, dessa forma, constituiu-se o CONLESTE, um consórcio com a participação de 15 municípios (mais de 2 milhões de habitantes), que vem executando um programa de articulação comprometido com a agenda do milênio, promovendo a melhoria dos programas de qualificação e capacitação dos seus habitantes e apoiando o incremento da competitividade das empresas.

A formação de quadros e a capacitação da mão de obra na região têm sido importantes, em função dos baixos índices locais de escolaridade.

A oferta de postos de trabalho, se correspondida pela absorção desta mão de obra, diminui as condições de pobreza e evita que profissionais de outras regiões desbanquem os locais, reduzindo o aumento da população à margem do desenvolvimento.

Os primeiros anos foram animadores, e trouxeram sensíveis transformações no desenvolvimento local. Hotéis e inúmeros prédios residenciais começaram a ser construídos.

Entretanto, a partir de 2012, a situação mudou. Em primeiro lugar, com a redução do preço do petróleo no mercado internacional, os royalties diminuíram sensivelmente, e muitos investimentos foram cancelados, com obras paralisadas.

A nova situação financeira da Petrobras resultou no redimensionamento do projeto e o que seria um complexo petroquímico, transformou-se numa refinaria e numa central de produção de gás, ambos com as obras paralisadas.

A consequência imediata foi a saída de muitos empreendimentos interessados em se instalar naquela região. Uma autoridade disse recentemente, com humor e ironia, que, se continuar desse jeito, vai acabar sendo um posto de gasolina.

Por força de minhas atividades profissionais, tenho viajado frequentemente para Campos e Friburgo, e passo por muitos dos municípios do CONLESTE. A situação é crítica, pois várias das iniciativas do Estado e dos municípios sofreram quebra de continuidade.

Além disso, surgiram os problemas típicos dessas crises, como o aumento da população de rua e dos índices de criminalidade, pois muitos postos de trabalho foram encerrados, a interrupção dos projetos de qualificação de mão de obra e a paralisação das obras de melhoria da infraestrutura das cidades.

Entendo ser decisiva a retomada das obras e de outros projetos estratégicos do governo federal para o Rio, apoiando o inegável esforço do Estado e das prefeituras, cada qual procurando fazer a parte que lhes cabe.

A Petrobras também deve priorizar a continuidade de seus investimentos na região pois, afinal de contas, esta é uma obra que interessa ao todo o país.
Paulo Alcantara Gomes

Nenhum comentário:

Postar um comentário