Quando liderava os metalúrgicos do ABC, promovia greves e até foi parar na cadeia, o Lula afirmava: “Não basta aumentar salários, é preciso mudar o regime”. Referia-se, por certo, ao regime militar então no poder. O tempo passou, os generais voltaram para o quartel, o sindicalista fundou o PT e a CUT, virou presidente da República e até elegeu a sucessora.
E o regime? Vale a lição do passado: é preciso mudá-lo. Jamais com a volta dos militares, mas os trinta anos da Nova República que agora se completam conduzem à evidência da necessidade de mudanças profundas. Em especial depois da posse do Lula e da ascensão dos companheiros, generalizou-se a concepção de serem os governantes os donos do Estado. As instituições estão a serviço deles. Não são eles que servem. Servem-se. Acham natural usufruir das estruturas públicas como coisa privada.
Tome-se as mais recentes denúncias de corrupção, atingindo os fundos de pensão das empresas estatais. Para dirigi-las, primeiro o Lula, depois Madame, indicaram representantes em grande maioria do PT. Do palácio do Planalto e dos ministérios seguiam e ainda seguem ordens para aplicação dos bilhões arrecadados pela contribuição dos funcionários. Geralmente para ajudar empresas em dificuldade ou para apoiar programas e iniciativas à beira do colapso. Péssimos investimentos, quase sempre, mas cumpridos à risca.
Resultado é que, para evitar a falência, os fundos de pensão dos funcionários da Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Correios e Furnas estão aumentando a contribuição daqueles que na realidade deveriam dirigir os empreendimentos para garantia de melhores aposentadorias.
A confusão é entre o público e o pessoal. Botar os ladrões na cadeia torna-se essencial, mas não basta, se as coisas continuarem de acordo com teoria e prática do regime vigente. No caso específico dos fundos de pensão, os funcionários é que deveriam geri-los diretamente.
Não se chegará ao exagero de supor a supressão do Estado, substituído pelas corporações, mas estender-lhes o controle de suas atividades pode ser um bom começo. O que tem a ver a presidência da República com a decisão de trabalhadores de uma determinada empresa de se cotizarem para auferir, na aposentadoria, rendimentos superiores aos oferecidos pela Previdência Social?
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