sábado, 14 de agosto de 2021

Brasil: O Haiti do G-20

Gostaria de poder dividir com os leitores reflexões sobre meus temas tradicionais (finanças públicas, previdência e macroeconomia em geral), mas é impossível ficar indiferente à tragédia de proporções bíblicas que ainda estamos vivendo e creio importante compartilhar com o público informações que transcendem a economia, para que cada um entenda a dimensão da catástrofe humanitária e do constrangimento internacional pelo qual estamos passando.

O Brasil é o sexto país do mundo em termos do número de habitantes, atrás da China (1,4 bilhão de pessoas), Índia (1,4 bilhão), EUA (aproximadamente 330 milhões), Indonésia (270 milhões) e Paquistão (220 milhões). Portanto, o país tende a estar entre os 10 primeiros países em termos de muitas variáveis: nascimentos por ano, mortes, doentes, vacinados, etc.</p><p>Por isso, nas estatísticas da pandemia, muitos analistas têm normalizado as informações dividindo os óbitos pela população, gerando o indicador de “óbitos por milhão de habitantes”.


Tentando suprir a deficiência da governança mundial e dada a necessidade dos países interagirem entre si para dar conta dos desafios globais, anos atrás foi criado o G-20. É o fórum dos países “mais importantes do mundo”, que conta com vinte componentes e representa os cinco continentes: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia, EUA, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia e a União Europeia, esta como “vigésimo país”.

Estar nesse grupo é uma honra no mundo atual. Pode-se imaginar a alegria, por exemplo, que causa à Espanha não estar presente no grupo, no qual com certeza muitos espanhóis consideram que o país tem mais méritos para estar nesse “clube” do que vários dos seus membros. Não é, portanto, uma distinção menor ser parte da “Série A” do mundo.

Nesse grupo de países, na estatística de óbitos por milhão de habitantes, o Brasil é o pior de todos. Mais ainda, entre todas as Nações do mundo, na estatística, somos a quarta, atrás do Peru, da Hungria e da República Tcheca.

O primeiro padece dos problemas típicos do subdesenvolvimento latino-americano e os outros dois são países que tiveram êxito na fase inicial da pandemia e, por isso, relaxaram, sendo pegos violentamente pela segunda onda, após meses em que uma falsa sensação de que “o pior tinha passado” gerou um enorme intercâmbio de pessoas, fazendo as taxas de contágio escalarem.

No G20, os exemplos ruins iniciais foram dados pelos países que deveriam ser modelos positivos, pelo grau de desenvolvimento: Reino Unido e EUA. Não por acaso, em ambos os casos, houve uma postura inicial de negacionismo oficial, gerando coeficientes altíssimos de contágio e um número enorme de óbitos.

Houve, porém, depois, guinadas radicais. No Reino Unido, o fato de o primeiro-ministro ter sido hospitalizado com Covid deu a ele uma outra dimensão do drama e o país deu uma guinada de 180 graus na estratégia, tornando-se um show case do que as autoridades devem fazer em uma Nação que privilegia a visão humanista da questão.

Já os EUA sofreram uma transformação completa após a posse de Joe Biden, que em poucos meses conseguiu avanços notáveis no processo de vacinação da população, mostrando a importância da liderança política – embora enfrente um problema sério de rejeição à vacinação de parte da população.

Entre os 20 principais países do mundo, o Brasil é o ... vigésimo! Em outras palavras, somos “o Haiti do G-20”. Se fosse um campeonato, seríamos rebaixados. É um vexame mundial. O consultor político J. Carville criou em 1992 para Clinton o slogan “é a economia, estúpido!”, para dar a ideia de que o que importava, nas eleições daquele ano, era a situação econômica.

Aqui, talvez no Brasil a economia não terá tanta importância - para aqueles que têm apreço pelo ser humano – como o legado macabro da pandemia. Carville diria: “é a morte, estúpido!”. Ou, a rigor, “é a vida, estúpido!”

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