quarta-feira, 17 de março de 2021

Gripezinha começa a apresentar ao presidentezinho conta do negacionismo

Quando o brasileiro ainda morria de Covid, o governo Bolsonaro parecia sem rumo. Agora que o brasileiro morre de falta de vacina, percebe-se que o rumo é o de uma tragédia humanitária sem precedentes. A mais recente pesquisa do Datafolha revela que a estratégia do presidente de botar a culpa em alguém não está funcionando. Assim como o número de mortos, a rejeição de Bolsonaro também bate recorde.

Para 54% dos brasileiros, o desempenho do presidentezinho na crise da gripezinha é ruim ou péssimo. Na opinião de 43%, Bolsonaro é o maior culpado pelo avanço da Covid. É bem menor a taxa dos que atribuem a culpa aos governadores (17%) e aos prefeitos (9%), chamados pejorativamente pelo capitão de "turma do fique em casa".

No geral, a avaliação negativa do presidente bateu no seu pior nível. O bom senso recomendaria uma correção de rumo. Mas Bolsonaro, além de seguir no rumo errado, despreza os inúmeros retornos que a conjuntura vai colocando na estrada.


Agora mesmo, instado pelo centrão a trocar a inépcia marcial do general Pazuello por uma marcha científica no Ministério da Saúde, Bolsonaro dividiu-se entre duas opções cardiológicas. Preferiu a "continuidade" que o doutor Marcelo Queiroga topou encarnar. Desprezou a guinada sugerida pela doutora Ludhmila Hajjar.

Os observadores mais apressados dizem que Bolsonaro se omite na crise. Engano. Alguém que trama a "continuidade" da gestão Bolzuello —híbrido de Bolsonaro e Pazuello— sabe muito bem o que não está fazendo. Na sabotagem mais ruinosa, a dupla demorou a entrar na fila das vacinas. Exercitou na plenitude máxima a prerrogativa de escolher o caminho dos brasileiros para o inferno.

Se o mandato de Bolsonaro fosse um filme, o título seria o seguinte: "Michelle, encolhi a Presidência." A gripezinha reduz a margem de manobra do presidentezinho, encurtando-lhe os horizontes. Embora ainda retenha o apoio de 30% do eleitorado, Bolsonaro vê o projeto de reeleição subir gradativamente no telhado.

Imbatíveis no faro das oportunidades políticas, os líderes do centrão começam a olhar de esguelha para Bolsonaro. Já se deram conta de que o presidente lida com duas realidades: a dele e a verdadeira. E se irrita com a constatação de que sobra cloroquina na primeira e faltam vacinas na segunda.

É como se, neurótico, Bolsonaro tivesse construído um castelo no ar. Psicótico, foi morar nele. Esqueceu que a sociedade, na pele de psiquiatra, costuma cobrar caro o aluguel. O Datafolha informa que começou a chegar a conta do negacionismo.

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