O Partido dos Trabalhadores realizará seu 5º Congresso em meio a um gravíssimo problema de identidade, como admite o manifesto de sua corrente majoritária, Construindo um Novo Brasil.
O dilema não tem a ver com uma crise de consciência ou com a tentativa de limpar a própria biografia dizimada por escândalos e malfeitos.
Na verdade, o que preocupa os petistas é como firmar posição, manter o poder e se locupletar com o melhor dos mundos: usufruir do bônus de ser governo sem arcar com o ônus.
Só isso explica o grande ponto em comum entre as sete teses apresentadas pelas diversas correntes do PT: a crítica ao ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy.
O caleidoscópio petista é vasto.
Vai de quem simplesmente quer a cabeça do ministro da Fazenda e um giro de 180 graus na política econômica da presidente Dilma Rousseff, até quem considere o ajuste fiscal como um “recuo tático” que “recai mais sobre os trabalhadores do que sobre outros setores das classes dominantes".
Essa é a posição mais moderada, defendida pela corrente majoritária e cuja chapa ironicamente se chama “O Partido que muda o Brasil”. Sabemos muito bem onde essa mudança desaguou.
Vamos deixar de lado algumas pérolas da tese da maioria, como suas lamúrias contra o ”presidencialismo de coalizão” e seu mea-culpa por causa do “cretinismo parlamentar” praticado por alguns petistas ao longo das últimas legislaturas.
Mais importante do que tudo isso é a aposta numa luta intestina entre Joaquim Levy e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, com Dilma desempatando o jogo em favor dos “desenvolvimentistas”, como fica claro na seguinte passagem:
“Face à disposição manifesta pela Presidenta Dilma de preservar as conquistas dos trabalhadores nos últimos 12 anos, é necessário que as medidas fiscais sejam complementadas por propostas governamentais que apontem – como já declarou o Ministro do Planejamento – para uma retomada do crescimento ainda este ano”.
O delírio é livre.
O dilema hamletiano dos petistas não se resume apenas a ser ou não ser governo. A crise do PT é tão profunda (talvez seja a maior crise já vivida por um partido político na história brasileira) que o desencanto vem batendo firme em couraças até recentemente impenetráveis. A catatonia e a perplexidade tomaram conta das bases.
Mais: petistas de alto coturno avaliam até que ponto é negócio disputar as próximas eleições pela legenda, ou se não é o caso de criar um biombo para se proteger da severa punição que o eleitorado anuncia.
Esse parece ser o jogo de Lula. Está com Dilma, pero non mucho.
Ora prestigia a presidente, ora avaliza a pregação do ex-governador Tarso Genro em torno de uma frente de esquerda.
Se houver o milagre da recuperação de Dilma, o caudilho será candidato em 2018 pela legenda e sua campanha terá como símbolo uma enorme estrela. Mas se for confirmada a tendência atual, pode se descolar da criatura e se candidatar por algo semelhante à Frente Ampla do Uruguai, atrás da qual venham a se esconder petistas de todos os cantos.
Enquanto o horizonte não se esclarece, Lula fará o que Juan Perón sempre fez na Argentina: arbitrar a disputa interna entre a direita e a esquerda do seu partido para impor o princípio da “verticalidad”.
É um princípio cristalino. O debate interno é livre, mas a última palavra é a do caudilho.
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