Comunidades mantêm bolsões de extrema pobreza. Para especialistas, condições urbanas acentuam penúriaCom o olhar perdido no horizonte, Maria Eunice Guimarães mastiga um sonho, desses de padaria. A vista é para o mar de Ipanema e Copacabana. Mas, como já dizia a música dos Titãs, “miséria é miséria em qualquer canto”. E Maria Eunice, aos 51 anos, nunca escapou dela. Quando criança, viu os irmãos morrerem de fome. Aos 7, fugiu de casa, segundo ela, porque sua mãe não acreditou que seu padrasto queria estuprá-la.
Criou-se na rua. Admirava cartões-postais nas bancas de jornal. E foi parar numa paisagem digna de um deles. Mas a beleza não esconde as feridas ainda abertas em sua vida: mora no ponto mais alto do Pavão-Pavãozinho, 780 degraus morro acima, no pedaço da favela conhecido como Caranguejo, onde predominam barracos de madeira, como o de Maria Eunice, e casas de pau a pique.
Sem acesso a programas sociais, Maria Eunice e o companheiro, Washington de Freitas, são “garimpeiros urbanos", sobrevivem do que moradores de Copacabana jogam fora. Quase tudo o que o casal tem foi achado no lixo. Inclusive o sonho que Maria Eunice comia na manhã de 21 de maio.
— Achamos no lixo do mercado. Pegamos também carne, resto de mortadela, raspa de queijo. Não tenho vergonha. Cumpri 17 anos de prisão por roubo e homicídio. Há seis, estou em liberdade. E ganho minha vida honestamente, embora eu já tenha jogado minha carteira de trabalho fora. Ninguém emprega ex-presidiário — conta Washington.
O desemprego no Pavão-Pavãozinho, no entanto, não é dos mais graves. O Diagnóstico Socioeconômico das Comunidades com Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), da Firjan, diz que está em torno de 5%, o sexto menor entre 26 favelas pesquisadas. Mas a escolaridade média é de 5,9 anos.
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