Até agora, a síndrome tem sido apontada como decorrente da infecção de gestantes pelo zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, que também causa dengue e chikungunya. A prevenção é única: erradicar o mosquito! No popular, “aí é que a porca torce o rabo”.
Eliminar o poderoso trimosquito não é da alçada apenas da consciência ecológica da população. Depende, sobretudo, de vivermos em lugares onde haja saneamento básico, direito constitucional que a Lei 11.445/2007 define como “o conjunto dos serviços, infraestrutura e instalações operacionais de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana, drenagem urbana, manejos de resíduos sólidos e de águas pluviais”.
Dados do Instituto Trata Brasil dizem que 35 milhões de brasileiros não têm água tratada, e, pela estimativa do IBGE em 19.2.2016, éramos 205.514.977 habitantes num país eminentemente urbano. Em 2010, apenas 15,65% da população vivia em área rural. Dados do IBGE de 2012: a população residente rural era 15% da população total: 195,24 milhões!
O Ministério das Cidades divulgou, em 16.2.2016, que “quase metade da população do Brasil não tem acesso à rede de esgoto” – cerca de 100 milhões de pessoas descartam seus dejetos nas ruas, a céu aberto, criando focos de Aedes aegypti sobre os quais a população não tem culpa nem poder de controle!
A “crença científica” do início das epidemias contemporâneas, de que o mosquito da dengue só gostava de água limpa, caducou! A descoberta de que “o inseto se reproduz em água com altos níveis de poluição, como o esgoto bruto” é de uma pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba, coordenada pelo biólogo Eduardo Beserra, que conclui: “Tinha-se a crença de que os mosquitos só se reproduziam em água limpa, mas já foram encontradas larvas em águas de esgoto. Eu já encontrei” (“Cuidado, o Aedes aegypti também consegue se reproduzir em água suja”, “Época”, 3.2.2016).
Lanço mão, outra vez, da pedagogia da repetição: “Hoje, no Brasil, a acumulação de lixo é praticamente igual a foco de proliferação do Aedes aegypti. Eis a foto da realidade do país que quer imputar às mulheres o maior tributo da epidemia de microcefalia: a injustiça reprodutiva!” (“O lixo do Carnaval diz muito até sobre injustiça reprodutiva”, O TEMPO, 9.2.2016).
Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, diz que “uma criança morre a cada três minutos por não ter acesso a água potável, por falta de redes de esgoto e de higiene... Hoje, não temos coleta de esgoto nem para metade da população brasileira”.
É o caos! As estratégias “campanhistas” em curso têm importância educativa, embora limitada. Falo da Mobilização Nacional contra o Aedes, capitaneada pelo governo federal, e da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016, com o tema Casa Comum: Nossa Responsabilidade.
Desde que me entendo por gente, ouço uma verdade da boca do povo: “Prefeito não faz esgoto porque esgoto não dá voto. É coisa que ninguém vê! Fica debaixo da terra”. Acho que o povo tem razão.
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