"Quando a esquerda começa a contar dinheiro já deixou de ser esquerda”, dizia Carlito, que faleceu em junho de 2002 , antes de ver Lula lá. Ele foi atento observar da trajetória de muitos partidos de esquerda da segunda metade do século passado, que afrouxaram fronteiras programáticas e éticas. Começaram, para chegar ao poder, a praticar uma ‘realpolitik’, aliando-se a viscerais adversários. Passaram a praticar a ideia torta segundo a qual os fins justificam os meios. Confundiram a correta postura de firmeza estratégica e flexibilidade tática com acordos de bastidores onde tudo valia. Resultado: essa esquerda se descaracterizou.
Há dez anos, quando indagam a nós, do PSOL, sobre as razões de sairmos do PT, com Lula ainda na metade de seu primeiro mandato presidencial, respondíamos que nós não saímos do PT, o PT é que saiu de si mesmo. E completávamos: saímos para continuar praticando o que nele aprendemos. Ou, na metáfora que um camponês de um assentamento em Campos, no norte fluminense, nos ensinou, “mudamos de enxada para continuar o plantio”. Por óbvio, não para obter colheita patrimonial ou para colocar a máquina do estado para financiar campanhas milionárias e, assim, aliados ao grande capital, através de meios lícitos e ilícitos, reproduzir o sistema que proclamávamos contestar.
Assim o PT chega aos seus 36 anos de existência como uma promessa que feneceu.
Ele é portador de uma doença letal que o fez perder, enquanto organização, sua condição de partido da transformação social. Como disse Guilherme Boulos, o jovem líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, “o PT está colhendo o que deixou de plantar”.
É pena. Vida e história que seguem.
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